Lembro-me muito bem dos livrinhos de banca de jornal que eu
lia no começo da adolescência: neles, a mocinha permanecia virgem, intocada até
conhecer o seu grande amor. E em algum momento, depois de muitas reviravoltas
na história, quando eles finalmente viviam seu “momento de amor”, a mocinha em
algum momento implorava: “Oh, por favor, possua-me...”
E aquele era o momento em que o homem, poderoso e másculo, a
penetrava, e isso era considerado o auge, o centro de toda aquela cena.
Depois que a gente cresce e olha para isso de novo, percebe
o grande absurdo no modo como nossa cultura nos moldou: fomos levados a
acreditar que uma mulher só se transforma em mulher depois que é “possuída” por
um homem.
Mesmo em cerimônia de casamento se diz: Eu vos declaro
marido e mulher. Não marido e esposa. Porque um homem já é homem desde que
fique adulto. A mulher, quase mesmo sem que a gente perceba, é sempre vista
como transitiva: é mulher “de alguém”. Espera-se de um homem que ele saiba dar
prazer a uma mulher, como se ela não tivesse controle, sensibilidade e firmeza
para proporcionar prazer a si mesma.
Mas... surpresa! A gente sabe sim. E já que não é possível
controlar completamente nossa libido, o próximo passo é demonizar: que vulgar
mulheres falando sobre sentir prazer, né?
Bando de fúteis, egoístas, vagabundas que não precisam de um
homem para ter prazer. Sabe o que inventaram? Que pessoas que tocam o próprio
corpo podem ficar viciadas, e ter dificuldade para ter uma relação prazerosa
com o outro...
Impressionante até que ponto vai nosso medo de autonomia...
É linda uma mulher que se conhece. Ela sabe que pode compartilhar de seu prazer
com outra pessoa, mas que pertence a si mesma, e sua capacidade de gozar não é
dádiva a ser implorada para algum outro, mas magia poderosa que ela mesma
possui.
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