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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Combinado não sai caro


Acredito que a afirmação “ninguém pode ser coagido a ser protegido contra a própria vontade” de Maria Lúcia Karam[1] possa ser pensada em situações em que um combinado prévio não é cumprido, o que poderia ocasionar a degradação entre seres humanos por atitudes coercitivas. Por exemplo:

Combinado: Vivemos em relacionamento monogâmico, sem traição.
Fato: Fui traída.
Atitude coercitiva: Brigo, chantageio e/ou maltrato minha namorada, pois ela me magoou e não quero perdê-la. Na minha cabeça, penso “vou dar uma lição nela para que ela nunca mais faça isso comigo e nem me faça sofrer mais”.
Atitude ética: Termino o namoro e lido com meu sofrimento, afinal esse era o combinado (traição = fim de namoro). Faço isso pois entendo que ela não é um objeto (que possa ser meu ou perdido), mas uma pessoa que, ao meu lado, possibilitava a relação amorosa que eu almejava para ser feliz.

Na prática, na maioria das vezes, a relação é mantida com a quebra do combinado. Seria uma margem de tolerância, caso o convívio não descambe para um ciclo de atitudes de coerção e violência.

Entendendo que “ninguém pode ser coagido a ser protegido contra a própria vontade”, deixo o convite de se partir para um novo relacionamento (consigo mesmo ou outra pessoa) ou, se for amorosamente desejado pelo casal, dialogar por combinado(s) que acolha(m) a dinâmica das vontades dos envolvidos.  

Cris Couto, 12/04/2017







[1] Juíza aposentada no Rio de Janeiro, membro da diretoria da Law Enforcement Against Prohibition (LEAP) e presidente da Associação dos Agentes da Lei Contra a Proibição - LEAP BRASIL). Maria Lúcia Karam emprega essa afirmação em sua crítica contra a guerra às drogas.  Segundo a juíza, o uso de entorpecentes acontece pela própria vontade do indivíduo. Como não há uma legalização das drogas no Brasil, os policiais agem como agentes de coerção da vontade própria dos cidadãos. Em razão das mazelas históricas de nosso sistema econômico, social e político, o Brasil é o terceiro país do mundo com maior população carcerária (mais de 700 mil presos). De fato, os grandes traficantes e fabricantes, de drogas não são presos. O que acontece: as cadeias incham com usuários e vapores, que são pessoas em vulnerabilidade social (pobres e homens e mulheres negros) e aguardam muito por tempo (meses, anos), encarcerados, o seu julgamento.

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