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quarta-feira, 29 de junho de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto

Anjos da noite


Lia tinha nove anos, era muito alegre e brincalhona. Adorava passar dias na casa de sua avó Joana. Finalmente, as férias chegaram e Lia estava na casa da avó.

Gostavam de tudo que faziam juntas: plantar flores, brincar com as gatas, correr com cachorros e ouvir histórias. Todas as noites, antes de dormir, vó Joana sempre tinha uma história de suas peraltices de infância para contar antes do boa noite: colher frutas, pular no lago, fugir de cachorros, comer bolo escondido.

Os primeiros dias das férias seguiram tranquilos. Na terceira noite, algo diferente aconteceu. Lia já dormia gostoso quando percebeu um barulhinho ao longe. Abriu os olhos. Aquele barulhinho era um choro baixinho de criança. E tinha outra criança além dela naquela casa?

Num pulo, levantou da cama. Colocou seus chinelos e abriu a porta. A casa da avó era um sobrado e os quartos ficavam na parte superior. A porta do seu quarto era de frente para a escada e, ao seu final, estava a sala. Foi até a beira da escada e coçou os olhos para enxergar direito. Sim, havia uma criança caída lá em baixo, chorando.

A menina desceu as escadas e se aproximou. De perto, ela viu direito: era um menino, um menino-anjo, que sofria com a asa quebrada. Lia viu as lágrimas e pôs a mão em seu rosto.

- Como posso te ajudar?

- Me leva de volta pro céu.

O medo sem fim que tomou conta de Lia foi apaziguado pela mão do anjo. Naquele momento, asas rasgaram sua roupa de dormir. Ela estava segura quando colocou o anjinho em seus braços e voou pela sala, saindo pela grande janela aberta.

Chegando no céu, Lia deitou o anjo em uma nuvem macia. Outros anjos apareceram: eram adultos e crianças com asas. Eles ficaram em volta do pequeno que ainda chorava e impuseram as mãos sobre a asinha quebrada. Aos poucos, as penas ficaram alinhadas e bem presas às costas do menino. Suas lágrimas cessaram.

O menino anjo ficou de pé e balançou a asa. Sem medo, deu um pulo e logo bateu suas asas em um lindo voo. Aterrissou ao lado de Lia para agradecer.

Ela estava feliz por ter ajudado, mas como voltar para sua vida de asas nas costas? Escutou do vento:

- Você pode voltar, mas sem as asas.

Lia aceitou o acordo, tirou suas asas e as deixou, cuidadosamente, a sua frente sobre uma nuvem. Logo, a nuvem guardou aquelas delicadas plumas em seu infinito.

O anjo curado carregou Lia de volta para a casa da avó. Só naquela hora ela se deu conta de como a noite estava bonita e o céu tão estrelado. Na sala, o anjinho colocou Lia no chão e lanço- lhe um olhar terno de gratidão. Ainda em silencio suave, voou pela janela em um rasante lindo rumo ao sol. Já amanhecia.

Quando só avistou as nuvens, Lia fechou a janela da sala e subiu as escadas de volta para seu quarto. Ela sentia a dureza dos degraus sob seus pés. Ao deitar-se na cama, ouvia os latidos dos cachorros.

Durante o café da manhã, vó Joana ouviu com a serenidade dos idosos a empolgante história da neta. Seu olhar era longo e amoroso e, a cada pausa de Lia, repetia baixinho:

- Crianças sonham, crianças voam, crianças crescem.

Cris Couto, [25/10/2015] 29/06/2016


Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora. 
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feiras
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terça-feira, 28 de junho de 2016

Errante

E então a vida estava toda certa. Ela já sabia o que ia fazer do resto todo da sua vida aos 17 anos. Todo o planejamento tinha funcionado. E então? Já estava fora de casa como queria, e ia estudar muito, fazer mestrado, doutorado, viajar pra outro país, talvez. Tudo tão cedo. Tudo tão imenso. Viu-se um dia deitada no chão, olhando pro céu estrelado e infinito, e pensando: “Cheguei onde queria”. Cheguei no fim do plano. Tudo tão imenso. A solidão atordoante do espaço infinito que a deixava flutuando no meio do nada. Mas como flutuar livre podia ser tão pesado? De repente entendeu que a vida já parecia toda traçada, definida, anunciada. Porque só tinha importância quem era doutor. Ou não?
Fugiu. Foi rezar. Foi tomar café na casa da dona Maria na favela. Entender suas histórias. Foi cuidar de criança e ouvir desabafo de bêbado. Quis humanizar-se. Vista como santa ou maluca. Andou pelas ruas levando aconchego, aprendeu a falar manso. E achou que aquilo tudo parecia mais importante do que ser doutor. Mas então veio a consciência, tão doída. Sua vida seria aquilo, até o fim de seus dias. Num determinismo apavorante. Ela faria a promessa de permanecer ali pra sempre. E teria que ficar.
Impossível. Um dia viu-se quase sem querer do lado de fora. Recomeçando, pela segunda vez. Então, seguir a vida igual quase todo mundo. Casar e ter filho. Simples. Ser comum. Descobrir como é isso de seguir a natureza das coisas, conforme lhe diziam. Casou e teve filho. E a descoberta sufocante, aterrorizante, de que nunca mais deixaria de ser mãe. E que poderia ir pra onde quisesse, desaparecer o quanto fosse, o filho continuaria existindo. Era a primeira coisa definitiva da sua vida. A primeira coisa que conseguiu criar raiz no seu amor. Se não havia como lançar fora, o menino foi ficando. E ela entendeu que era bom. Mas ainda assim, a vontade de ir embora era imperativa. Impossível desobedecer.
Sozinha. Tentando entender quem poderia ser, então. E por quê todo mundo parecia estar tão confortável nas seguranças e certezas, enquanto que pra ela a vertigem do abismo era soberana. Ela sempre tinha que pular pra fora de tudo o que a agarrasse. As vezes o pulo era do alto, e despedaçava bastante, deixando-a em carne viva. Ela levantava e seguia em frente, sem olhar pra trás. Por quê? Pra onde? Procurando o que?
Ela nunca soube.
Voltou a refazer caminhos já trilhados. Talvez houvesse esquecido lá alguma velha chave. Que abrisse a porta pra algum lugar digno de ser chamado finalmente de lar. Porque nunca tinha morado. Apenas ia ficando, até já não suportar. Ia ficando.
Naquele dia, a música tocava: “Me diga como você pode viver indo embora sem se despedaçar.

E ela chorou. E teve vontade de gritar pra sempre. 

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Deixe pra trás o que passou.





Esses dia eu tenho pensando sobre as pessoas que passaram em nossas vidas e escolheram não ficar. Não falo das pessoas que o destino tira do curso, mas das que escolhem não ficar. Passei o final de semana na casa de uma amiga com meu bonde, uma de nós teve uma crise nervosa e foi bonito de ver o carinho e acolhimento das outras. É bom saber que há gente pra dar um abraço quando as lágrimas estão lá e precisam sair.
Daí me pus a pensar nesse tipo de coisa, nesse tipo de carinho, de acolhimento de cuidado.
Hoje, não por acaso, creio eu; li a postagem de um amigo falando sobre essa dificuldade de desapego que temos, desapego não de coisas, mas de pessoas, de sentimentos, de amores. Me achei inteira nessa postagem,
Eu tenho dificuldade para me desapegar de quem eu amo. Mas desapegar não quer dizer deixar de amar, só quer dizer que esse tempo passou e que o novo deve vigorar. E que a vida vai dando nova forma, novo rumo, simples assim.
Então, é preciso entender que o passado passa e 'o presente não é apenas o momento, mas também estar presente' (tirado do texto de Ruano Berenguel); e acima de tudo é preciso estar com quem quer estar,
Há um tempo eu tive que encarar um desses rompimentos escolhidos, e depois de novo... Tive dificuldade de entender e aceitar, pois pra mim o pior dos sentimentos é ingratidão; o fato é que demorei muito tempo com essa coisa presa aqui no peito, sem entender bem o que era. E era só minha incapacidade de desapego. De entender que esse amor continua lá, e mesmo que seja unilateral tem validade, tem motivo de ser.
Com a postagem do meu amigo, entendi que é preciso ver que o passado estará sempre lá, porque ele é eterno. Que o presente é mesmo o querer estar e o futuro é um tempo que a gente projeta mas não sabe bem ao certo onde vai dar.
Também relembrei que gratidão é essencial. Que o tempo do outro também é necessário. Que todos temos algo de precioso para nós, e isso é fundamental para a caminhada.
Aproveito, para deixar ir quem não quer ficar, para dizer que eu mesma devo partir de onde já não sinto que me caiba, que as coisas tem tempo de ser e tempo de não ser e só a vida acontecendo.
Aos que declarei amor, saibam que é a mais pura verdade e os carrego aqui num ladinho desse coração. Não tem mais mágoas, nem mesmo questionamentos. E de resto é vida que segue!



Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
Para ler mais,e ver por onde ha traços meus. clica aqui, vai te levar ao facebook.

domingo, 26 de junho de 2016

Quer café?




Foi mais uma madrugada daquelas.
Passei em claro até quase três da manhã.
Chegamos eu um pouco bêbada, ela só alegre.
Após um banho uma refeição e em seguida deitamos preguiçosas.
Pernas entrelaçada comentando sobre como foi a noite e até mesmo sobre a vida.
Os olhos dela fixos em mim lentamente mudava de tonalidade, hora escuros hora claros.
Um sorriso que eu conhecia bem brotava, eu a beijei antes que ele terminasse de se formar.
Ela me agarrou com força, com certeza suas unhas me deixariam marcas.
Seus lábios tinha o sabor exato do sorriso que interrompi, sexy, convidativo, como mordiscar uma amora madura seus lábios estavam pintados num vermelho fatal.
- Certo momento da noite quando ela tomava sua caipirinha de frutas vermelhas a combinação me deixou de garganta seca, mas incrivelmente úmida de excitação.
O efeito do álcool já havia sumido ou eu nem sentia eu tinha era sede dela.
E bebi.... Sem dó!
Sem arrego.... Sem palavra de segurança!
Enquanto preparava o café fitava a bagunça na cama.
Fronha manchada de batom, Lençol molhado de suor, mas não só.
Ela lentamente se move, abre os olhos e me procura ao seu lado ao mesmo tempo que inspirava e sabia exatamente onde me encontrar.
Seu olhar agora preguiçoso e em tonalidade negra e brilhante como minha pele após o sexo.
Seu sorriso cheio de malicia para acompanhar, dispensava palavras de bom dia.
Eu a fitei dos pés à cabeça sorri satisfeita e perguntei, já enchendo a xícara!

- Quer café?

_Keila Almeida_

quinta-feira, 23 de junho de 2016

O poder dela

Cada nota vibra no coraçao, seja ele apaixonado ou naõ. 

Posso arriscar em dizer que é capaz de apaixonar corações ja desacreditados.

Traz uma saudade, pessoas de longe ou de lugares impossíveis de voltar.

Traz um toque, um cheiro, um sabor. Traz a voz da mae na infancia gritando seu nome no quintal.

É capaz de trazer aquele fim de tarde dançando no meio da sala, como se o mundo pudesse ser assim para sempre.

Pode trazer aquele dia que as malas ainda ñ estavam começadas...momentos antes de embarcar.

Traz a visita na casa da avó e os primos correndo na rua. Traz a vida, lembra a morte, deixa ir embora.

Leva a lugares onde seu corpo nunca te levaria, da coragem e incerteza, vontade e insegurança.

Conta sobre vidas inteiras e momentos em que naõ estava la, mas por um momento poderia jurar que viveu.

Faz revisitar lugares lindos sem precisar mover um centímetro do corpo.

Faz facinar e ser facinante.

Declara amor, dor...faz viver uma aventura, uma esperança, uma tristeza e a desesperança de dias melhores.

Se fechar os olhos ela invade e escreve sua história.

Mexe seu corpo inteiro, traz o suor necessario no rosto para renovar, reiventar, soltar energia acumulada, ou, que precisa desenvolver para trazer a diferença nos dias nublados.

Pode ser Sol, pode ser chuva, pode ser banho de chuva, piscina de bolinha e algodao doce.

Deixa estar, deixa ser, deixa cantar...deixa, deixa, deixa...

Deixa ser poesia, melodia, cançao de ninar. Deixa poder ou empoderar.

É eterna e eterniza.

Entra pelos timpanos, póros, até chegar na veia, até fazer pulsar a carne.

Feliz daquele que da voz a tantas palavras guardadas, de tantos amores ñ vividos e brincadeiras ñ brincadas. 

Ahhh, eu sem ela, sem o poder dela...ahhhh, eu sem a música.

Por: Renata


quarta-feira, 22 de junho de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto

Outra nova escola (Restrição dos Corpos I)

E lá ia eu para mais uma escola. Uma outra nova escola.

Minha mãe precisava trabalhar. Só minha mãe trabalhava. Minha vó cuidava no meu irmão mais novo, bebê ainda. Meu irmão mais velho tinha 8 anos e se virava, ia para escola sozinho, ajudava em casa.

Nos anos 90, não tinha pré-escola de graça para todos. Naquela época, crianças de seis anos ainda estudavam na pré-escola. Minha mãe pagava para tomarem conta de mim e ela ir trabalhar. Ela falava isso o tempo todo: minha vó estava doente dos ossos, não aguentava dar conta de tudo.

Minha mãe e minha avó diziam que eu só dava trabalho e que o melhor para mim era estar em algum lugar que me “desse um jeito”. Elas tinham muita fé na escola...

Mais uma manhã e, com seis anos, lá ia eu para a escola. De novo, uma nova escola. Naquele ano, já era a terceira vez que eu mudava de escola. Eu estudava em escolinhas de bairro, sabe? É quando uma pessoa decide juntar umas crianças para tomar conta e cobra por isso. Os adultos sempre cobram por alguma coisa.

Não gostava de ficar sentada. Gostava de correr! Esse sempre foi o problema em todas as escolas por onde passei. Assim que me sentia presa, logo descobria onde era o portão de entrada e saída, quando ficava aberto, com quem estava a chave. Na primeira oportunidade, ganhava a rua.

Nenhuma escolinha gostava de mim. Bagunceira e fujona, diziam. Muita responsabilidade e muito trabalho. Diante do que minha mãe podia pagar, valia mais a pena eu sair da escola.

Minha mãe precisava trabalhar, só ela trabalhava em casa.

Em vez de ficar presa na escola, eu bem que podia pegar o ônibus e ir trabalhar com ela. Para mim, a rua parecia ser espaço de liberdade.

- Não, Liliane. Você é pequena e vai me atrapalhar. Vou acabar sendo demitida por sua causa! Fique na escola, dentro da escola, e espere eu vir te buscar.

Eu esperava. O tempo era o meu pior castigo. Minha mãe não chegava nunca!

Aquela era mais uma escolinha de bairro. Uns brinquedos no quintal. No mesmo quarto, duas turmas, uma de pequenos e outra de maiores. Para minha mãe eu era pequena, mas lá já estava na turma dos maiores. Por que os adultos não entram em acordo quando precisam explicar o mundo para as crianças?

Já era maio. Eu tinha acabado de ser expulsa, no dia anterior, da segunda escola em que fui matriculada naquele ano. As coisas aconteciam depressa! Minha mãe fez questão de contar tudo para a mulher que tomava conta das crianças... a história era enorme, mas as mesmas palavras sempre se repetiam: bagunceira e fujona. Essas palavras eram eu.

Iriam tentar. Se não desse certo, me devolviam junto com o dinheiro.

Eu fiquei com a dona da escola. Vi minha mãe cruzando o portão, saindo para a liberdade. Ah, o portão...

Cadeira enfileiradas, crianças pequenas sentadas. Nem alcançavam a ponta dos pés no chão quando sentadas naquelas cadeiras. Cadeiras de adultos. Nem eu alcançaria, eu, que já era da turma dos maiores. A professora, de pé, falava alguma coisa para as crianças. Mostrava a lousa e o livro. Parecia saber do que estava falando. Eu, que já tinha alguma experiência com escolas, ainda não entendia nada.

Eu me recusei a entrar naquela sala. Ah, tudo de novo!? Mudamos tanto de escola para sempre encontrarmos a mesma coisa!

Chorei pela minha mãe. Mentira, não era pela minha mãe. Se ela voltasse pela esquina e me visse fazendo aquele escândalo, eu levaria uma surra ali mesmo. Eu chorei pelo portão. Eu chorei porque adultos podiam ir e vir onde queriam e eu não. Eu só podia existir se estivesse presa e vigiada.

Fiquei sentada no beiral da sala. De lá, conseguia ver o portão. A manhã se foi, o dia passou, já era fim de tarde e quando quase anoiteceu, minha mãe chegou correndo. Por duas crianças, eu não era a última a sair da escola. Ela dizia para a diretora que ônibus demorou por causa do trânsito. Logo, a escola saberia que ela sempre atrasaria pare me buscar.

Ela me abraçou. Fazia cara de severa, mas dava para perceber que estava feliz: naquele dia eu fiquei na escola. Eu fiquei dentro da escola esperando por ela.

A dona da escola disse que eu chorei, não entrei na sala, que passei o dia sem comer nada. Explicou para a minha mãe o primeiro dia era assim mesmo, eu estava em fase de adaptação. Minha mãe fez que nunca tinha ouvido aquela história. Adultos.  

Se a dona soubesse que permanecer na sala de aula nunca esteve nos meus planos desde o momento que passei por aquele portão, pela manhã, ela não me pouparia tanto...

- Obrigada, Dona Norma. Vamos para casa Liliane, estou cansada e morrendo de fome.

Meu olhar era de sim. Já era começo de noite e éramos tão parecidas, cansadas e famintas. Passamos pelo portão e ganhamos a rua, enfim.

Cris Couto, 22/06/2016


Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora. 
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terça-feira, 21 de junho de 2016

Amor é sorte

E então fazia um tempão que eu queria falar de você e de nós. Mas as coisas andam tão tumultuadas! E não tinha como não falar sobre a cultura do estupro. E não tinha como não falar da homofobia que mata gente todos os dias. E penso o quanto o nosso amor tá entranhado em uma série de outras questões que passam longe de amor.
Mas eu queria dizer. Eu queria contar que não tem príncipe que veio me acordar com um beijo pra ser feliz pra sempre. Mas isso é de verdade. E tem momentos em que eu quero que você desapareça. Mas na maior parte das vezes agradeço tanto a sua existência... E eu sempre me pergunto se não é assim com todo mundo, e se por acaso as outras pessoas aprenderam a editar melhor a própria vida pra parecer que tudo é sempre comercial de margarina. Convivência pode ser foda, às vezes. A gente tem que equilibrar o desejo de silêncio e solidão com esse outro desejo, o de estar junto, o de não largar nunca mais, e saber que o outro também vai ter correspondente desejo das mesmas coisas, e que nossos tempos nem sempre vão bater, e as vezes  não teremos o mesmo desejo de forma simultânea. Porque o outro não é uma parte da gente, ele só consegue ser ele mesmo, e não existe para corresponder as nossas expectativas. E isso parece tão óbvio, mas nunca é. A gente idealiza. A gente pensa que seria perfeito se a pessoa só existisse pra nos satisfazer, mas no fundo a gente sabe que se fosse assim perderíamos o interesse em uma semana, porque o lado desafiador e diferente que faz o outro ser ele mesmo, no fundo é disso que gostamos mais.
No fundo a gente não quer estar sempre certa. No fundo a gente não quer que só existam as nossas vontades. No fundo o amor comporta uma porção de embates que nos lembram de quem somos. Que ajudam o outro a se lembrar de quem é. Eventualmente, no amor, a gente se enxerga no outro como espelho, a gente brinca de sombra e se irrita com o que faz e com o que vê.
Amor, amor mesmo, é sempre muito mais complexo do que todas as idealizações que se escrevem sobre ele. Nosso amor é do tamanho que a gente é capaz de ser. Por vezes um mundo de luz e sombra. Por vezes pode ter a calmaria de um domingo de frio, debaixo das cobertas. Apenas. Nós nos olhamos nos olhos e reconhecemos no olhar do outro aquele que existe. Aquele que não só existe, como nos vê. Permite que a gente exista.

E sempre existem aqueles dias quando o sorriso nos alimenta. A gente procura por ele, e a gente sente que pode ser feliz uma vida toda porque aquele sorriso está lá, e aquele sorriso brilhante dá sentido a um universo de coisas que vivemos diariamente, e nos sentimos muito maiores e mais capazes. Por apenas um sorriso. Desse jeito. O que tem que ser tem força.  

E se sua forma de amar não se parece nem um pouco com essa... tudo bem. O amor tem a cara dos amantes. 

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Porque sentir não dá pra explicar.




É que sentir é mesmo uma coisa estranha. E também é meio difícil de entender.
É de dentro, e algumas vezes a gente nem sabe se dentro da cabeça ou do coração.
Aí a gente deixa acontecer pra ver onde vai e algumas vezes vai bem e outra vezes vai mal a beça...
Me lembro que quando meu casei eu sentia todo o amor do mundo, o coração trasbordava de tanto amor. E eu senti por muito tempo, só que do outro lado acabou logo.
E eu passei a me sentir a pessoa mais burra e mais feia do mundo... Era assim que meu cônjuge me sentia; e embora ele nunca tenha dito isso uma única vez,  repetia esse sentimento diariamente. E eu passei a acreditar nele.
E só fui *salva* muito tempo depois por um amor que transcendia o tempo. Ainda que dessa vez eu não pudesse sentir...
E o tempo passa e os sentires mudam e continuam sendo.
Conversando com uma grande amiga, falávamos sobre bancar o amor do outro.
Sobre como é difícil achar alguém que possa aceitar *ela me ama exagerado, e fim*.
Porque sentir é assim.
Uma enormidade de possibilidades de perceber o outro e a si mesmo. Um eterno pesar de mais e menos sentir; e o coração balança e a cabeça também.
E por vezes perde o prumo, senão o rumo. E a gente continua.
Eu sei lá se dá pra bancar o outro, algumas vezes a gente nem banca a gente mesmo... 
É que essa coisa de amor é chuva tempestiva, dessas que derruba arvores e depois deixa um arco iris de ponta a ponta no céu.
Mas vale mesmo é sentir!


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Palavreando
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sábado, 18 de junho de 2016

Os chipanzés e as bananas ou os humanos e seus preconceitos?



Quem conhece ?

E quem acha que conhece apenas leia de novo!


E deu se que numa experiêcia colocaram os humanos na terra com características, etnias, religiões, sexualidade, gêneros,sexos etc diferentes.

Primeiro milênio a.c: O primeiro milênio antes de Cristo começou a 1 de janeiro de 1000 a.C., e terminou a 31 de dezembro de 1 a.C. Nota -se que a contagem regrediu,correto? E com ela a mentalidade das pessoas vejamos; Como estudamos nas escola neste período, havia a Grécia o império Romano, muitos Deuses, Matriarcado, aquele povo como dizem por aí pagão, mas "de boas", disputavam por território e em olimpíadas, havia os filósofos, os matemáticos etc e etc até aí, a vida alheia pouco importava o mundo era vasto e fascinante, maçãs caiam da arvore e era um mistério que por si só ocupava muito a vida das pessoas que queriam por que queriam saber como assim aquela maçã caiu? 

Primeiro milênio d.c: O Primeiro Milênio d.C. começou no primeiro ano depois de Cristo e vai até o ano 1000 d.C. Então como estudamos na Bíblia veio Jesus ensinar o amor ao próximo, morreu por nós e PERDOOU NOSSOS PECADOS, ou seja, esta perdoado e fim porém, deixou uns seguidores e nem existia Facebook ainda , enfim escreveram a Bíblia Sagrada com tudo que Jesus disse e o que Deus revelou em espirito (adendo hoje espirito é coisa do diabo quando é na religião alheia) e ficou assim como conta a história: Cristianismo é lei Jesus mandou queimar essa gente que estuda o por que de a maçã cair, que faz conta com letra e faz remédio de mato,esse papo que a terra gira em torno do sol e não vice versa é o demônio que a possuiu, depressão(obra do demônio), ansiedade(obra do demônio), deficiências físicas(obra do demônio), hanseníase(obra do demônio) queimem , apedrejem , torturem, matem, enforquem ai já viu a vida alheia entrou na bagunça como se fosse pouco, isso não pode, aquilo não pode, é pecado reze ou morra.

Segundo Milênio d.c: f
oi o período de tempo que teve início em 1 de janeiro de 1001 e terminou em 31 de dezembro de 2000.  Estende se ai a lei do queime, mate, apedreje e incluíram o escravizem , violentem, estuprem, ofendem, tirem a paz o direito de ir e vir, de andar a noite, de vestir o que quiser, de ser quem quiser, de amar quem quiser hoje estamos em 2016 o que mudou?

Há e os chipanzés?

Há uma experiência que comprova que o individuo segue a massa irracionalmente. 
Quatro chipanzés são colocados em uma jaula dentro dela uma escada no topo bananas maduras, o primeiro tentou subir a escada o eletrocutou, quando o segundo foi tentar o primeiro que foi eletrocutado o bateu até que desistisse quando o terceiro tentou apanhou pelo primeiro e pelo segundo. 
Quando todos os chipanzés tentaram, apanharam e desistiram, um deles era trocado por outro, e ao tentar subir repetia se a ação de apanhar até que ele desistisse isso ocorreu até que os quatro chipanzés foram trocados por outros que não viveram e nem presenciaram a experiência do chipanzé eletrocutado, acrescentaram um quinto chipanzé  porém os quatro novos repetiam a ação de bater no quinto sempre que ele tentava alcançar as bananas até que o mesmo desistiu. Se os mesmos pudessem responder a pergunta de por que batiam sempre que alguém tentava subir. Qual seria a resposta?
A mais óbvia seria: - as coisas sempre foram assim desde que chegamos.
Mas não minha gente não foram alguma coisa influenciou o comportamento de alguém e isso se espalhou devida a ignorância dos demais.

Moral da história, por que as vezes é preciso desenhar. 
(Neste caso explicar o óbvio)

Os direitos humanos estão apodrecendo lá no topo da escada chegaremos lá algum dia?
E você?

Você mulher?
Você Homossexual?
Você Negro?
Você não cristão?
Você homem?
Você humano?
Você, seja lá como  se identifique?
Você simplesmente, VOCÊ?

NÓS, vamos PARAR DE BATER?

PRECONCEITO É IGNORÂNCIA!

_Keila Almeida_

quinta-feira, 16 de junho de 2016

As mágoas que causamos

Jah me deparei com tantos textos de mágoas, tristezas e desabafos causados por alguém que gostamos ou amamos, frases prontas ou criadas por um coração partido...

Mas e quando vc é o causador da mágoa? Quando vc mesmo causa em alguém que vc ama uma dor, uma tristeza, quando abre uma lacuna, quando faz o outro se sentir mal, invadido, desvalorizado, desprotegido ou abandonado? Quando faz algo de errado a alguém tão importante pra vc, quando de repente as palavras são contraditórias a todo e qq sentimento bom que existe dentro de vc? Quando é VC que ultrapassa o limite do outro?

Quando VC percebe que DESCULPAS não vão adiantar porque simplesmente dói em vc o fato de ter sido pequeno, de não ter se calado e contado até 10, 20 ou 1000 se necessário, pq esse tempo seria o suficiente para entender que a situação é totalmente diferente a que vc criou na sua mente em milésimos de segundo...Quando é VC que num momento insano se sente o dono da razão, dono das vontades, das palavras, dos sentimentos, ou que não sente nada, pq tudo é tão rápido que se tivesse sido pensado COM CERTEZA não teria feito.


Quando percebe que aquele coração que já é ferido VC foi capaz de ferir também!
Não...esse tipo de texto nunca li!!!


Quando magoo alguém que amo dói em mim (como dói, como é difícil), quando não doer, algo está errado, porque não estou nesse mundo para sofrer, nasci para ser feliz, só que para isso preciso que os meus também sejam...meus pais, meus irmãos, meus familiares, meus amigos, meus amores...
Palavras são como pedras atiradas no rio...


Impotente que sou por não poder voltar no tempo, só um pouquinho que fosse...

Errar é humano? Que seja...e sentir muito não é e nunca será tão grande como o TEMPO, que é o único capaz de colocar as coisas no lugar...
Então...TEMPO...vou te pedir uma coisa...passa logo...me faz melhor, me faz aprender, leva logo tudo isso, leva logo essa saudade que já se faz aqui dentro, mostra a tua força e traz de volta o meu olhar iluminado!

Por: Renata

quarta-feira, 15 de junho de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto



Guiando a vida

“Consegui me equilíbrio cortejando a insanidade” (Renato Russo)

Um momento marcante de minha vida foi quando decidi tirar minha carta de moto. Entrei na autoescola decidida, precisava fazer aquilo. Naquele tempo, eu estava sem propósito, sem carro e aprender a pilotar uma moto parecia uma boa. Para minha amiga, essa foi uma forma de eu voltar a guiar minha própria vida. Eu nunca tinha pilotado uma moto antes.
Meu pai tinha uma moto e minha recordação de infância era ter queimado minha perna no escapamento quando sua moto caiu em cima de mim. E ainda apanhei por causa disso! De garupa, lembro de dois momentos marcantes. No primeiro, fui para um sítio, no sul de Minas Gerais:  viagem tranquila, cansativa e pernas em câimbras. No segundo, era noite na Serra do Mar e eu estava montada na moto prateada de Fernando. A velocidade da moto, a beleza da serra e os longos cabelos de Fernando deram o charme da aventura daquela noite.
Meu professor era um outro Fernando e isso foi o prenúncio de um bom começo! Outra coisa boa era curtir as manhãs no Parque do Ibirapuera. Isso fazia bem para a minha alma, pois já fazia um bom tempo que eu não fazia nada para deixá-la feliz e tranquila.
Minha vontade de correr era dosada por Fernando com sabedoria. Na maioria das vezes, eu andava círculos e padecia nas pistas de treinamento. Uma vez consegui acelerar um pouco mais no percurso inicial, entre as vagas do estacionamento e foi o máximo! Logo, Fernando chamou minha atenção: era preciso ter calma para dominar o funcionamento da máquina.
Aprendi que andar de moto é uma simbiose. O equilíbrio está no corpo, o balanço das curvas na cintura e quanto mais colada na moto, mais era possível ter precisão nas manobras. Mente ligada e olhos atentos. Uma das melhores terapias que fiz: em quanta vida eu pensava sentada no banco daquela motoca!
Ao aprender andar de moto, me dei a chance de lidar com o medo, a emoção e o desconhecido. Corajosa por colocar à mostra minha pele sem carcaça de proteção. Chegar ao fim do percurso, onde tantos também treinavam e queriam chegar bem. Ser julgada e reconhecida pelos mais experientes como capaz de guiar a própria moto em qualquer estrada.
Guiar a vida? Bom, esse é um outro treino que sigo, bem mais intenso. Agora, pelo menos, já sei que é preciso ter muita coragem para enfrentar o desconhecido e encontrar as emoções que marcam todo o percurso.
Hoje, ando de moto com minha namorada. Em nossas aventuras, me impressiono com a segurança que sinto quando ela nos guia. Não piloto e ainda não tenho a minha moto. Ainda falta, mas agora, cada vez menos.

Cris Couto, 13/06/2016.


 Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora. 
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feiras
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terça-feira, 14 de junho de 2016

Não existe religioso homofóbico. Nem cristão homofóbico.


Sim. O titulo é mesmo esse. E eu reafirmo. Não existe. E você pode ler isso e dizer: “Mentira, eu conheço uma série de religiosos que são homofóbicos”. E eu respondo reafirmando que não. Não existe um único religioso homofóbico em todo o planeta. Ou a pessoa é homofóbica, ou é religiosa. Se é homofóbico e se diz religioso, está mentindo. Porque nenhum Deus na atualidade legitima que se mate pessoas por puro ódio.
Vamos ao pé da letra. Cristão, por exemplo,  é aquele que segue a Cristo. E não precisa nem ter lido todo o Novo Testamento, basta ler uma parte pra entender que Cristo jamais sairia por ai apedrejando ou alvejando quem quer que fosse. Muito menos metralhando. Aos que o mataram, ele fez uma prece: “Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem”. Ouso sustentar isso diante de qualquer uma dessas pessoas que se jure cristã sem nunca ter lido de verdade o Evangelho, sem entender sua mensagem plena de amor.
A M O R. Não existe religioso homofóbico porque aqueles que se dizem religiosos pregando ódio não passam de sepulcros caiados. Bonitos por fora e podres por dentro. Foi Jesus que disse.
No dia que se comemorava o dia dos namorados, mais de cinquenta pessoas deixaram de existir. Pelo ódio. Isso nada tem a ver com religião. Nem com cristãos. Nem com Deus. Eu conheço a Deus. Não foi ninguém que me transmitiu recado, é Ele mesmo que fala dentro do meu coração. E ele me ama. E eu tenho certeza que quando eu me despedir desse mundo é no colo de Deus que eu vou receber um cafuné. E ele vai me chamar de “minha filha” e me dizer “eu te amo”. E não. Ele não vai me apontar o dedo por amar uma mulher. Porque ele conhece o tamanho do meu amor. Porque esse amor só pode vir dele mesmo, e é um amor tão puro quanto o de qualquer outra pessoa. Os homofóbicos que lidem com isso, se conseguirem.
Deus está comigo. Está com você. Está com as pessoas que não sabem o que fazem. Eu não vou me afastar de Deus apenas porque tem gente jurando que Deus me odeia e me criou apenas para depois me aflingir castigos terríveis por toda a eternidade. Porque eu sei que isso não é verdade. Por mais que uma mentira seja repetida, ela não se torna uma verdade diante daqueles que sabem de si.
Não. DEUS não me condena. Religiosos com discursos de ódio estão perdidos dentro da religião que dizem seguir. Cristãos com discursos de ódio nunca conheceram a Cristo de verdade, nunca tiveram uma verdadeira história de amor e resgate com esse Cristo que dizem amar.

Meu desejo é que todos eles aprendam a amar. Da forma que for. Qualquer maneira de amor vale a pena. 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Sobre LET IT BE!!




Ontem tive uma longa conversa com uma amiga, uma das melhores amigas. daquelas conversas de Mariah. Digo o que penso e como penso e ouço igual, e por vezes é bem dolorido, mas o que é a amizade senão verdades e amor em enxurrada?!
O fato é que essa minha amiga e nossas longas conversas, que podem durar dias e usar todos os canais de comunicação DO MUNDO, me levam a grandes reflexões.
Nós usamos a frase “let it be” como um mantra, quando a coisa já degringolou, quando não há solução possível, quando não há forças. Às vezes a gente só tem que deixar que seja mesmo. Fim.
Dá-se que ontem, quando ela me repetiu pela enésima vez o tal let it be, na mesma conversa, eu deixei ser. Deixei que me descesse o entalo na garganta, deixei que desanuviasse minha raiva contida, deixei que escorresse, pela ponta dos dedos, o “veneno” do que eu achava injusto. Ora vamos, quem sou eu para julgar uma vida que não me pertence? Quem sou eu para dizer que a isso perdoe e aquilo não?
Quase me acusei, mas dei , a mim, o direito de confundir emoções e ali mesmo me perdoei. Mesmo sabendo que de boas intenções o inferno anda cheio, elas ainda carregam o seu valor.
Eu, que vivo dizendo que não nasci para ser mãe, embora já o seja e muito bem, obrigada; tenho um instinto maternal maior que eu mesma, então a qualquer mudança ou magoa entre os que amo, já vou querendo saber, defender, conciliar.
Pode parecer legal, mas olha, acredite, não é!
Espaço para ser, para escolher, para errar e para acertar é essencial. Não há instinto maternal, amizade, amor que caiba nesse lugar de escolha do outro. Não há explicação de cuidado que caiba nesse cantinho, onde só pode pertencer ao outro. E isso é importante para seguir adiante, e aqui eu falo de mim (de nós), não da amiga não da outra pessoa.
Outro dia, após notar uma mudança e um silêncio sepulcral de um amigo, ousei questionar. na minha cabeça era cuidado, ao ser respondida com certa grosseria (não atípica para o tal amigo) me toquei que havia cometido um grave erro, havia invadido um espaço que não me cabia.
Não podemos ser importantes e nem impor presença para quem não nos quer perto ou importantes, ainda que seja apenas naquele momento. Amizade não esta em impor presença, talvez em aconselhar... Mas só, e bem talvez mesmo.
O fato é que precisamos mesmo “deixar que seja”, o sentimento que for, a atitude que for, a ação que for, a escolha que houver.
Quando escolhemos não somos vitimas! 
Então, reflexão feita: viva e deixe viver, e o resto é vida que segue!.


Let it be!!


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Padrão



Eu era algo talvez quadrado, quem sabe curvo, ou inclinado.
Eu tinha, uma abertura, ou nenhuma, talvez tinha duas e tantos de largura por outros tantos de altura.
Eu tinha um brilho, talvez fosse reflexo e uma luz própria ou peguei emprestada.
Eu tinha um contexto, ou só um pretexto eu tinha razão ou talvez não.
Eu tinha certezas, maiores que as dúvidas, talvez vice e versa ou etc.
Eu tinha tudo cheio de nada. Eu era completa de tão incompleta.
Eu era feliz, sou ou serei, é tudo constante em minha inconstância.
Eu tinha um ideal, talvez um sonho ou até utopia.
Eu tinha um ponto, talvez reta ou curva.
Minha única certeza é que não havia você.
Todo gráfico tem seu ponto 0.
Toda reta tem seu ponto.
Toda curva tem seu centro.
Eu e você podemos ser um conjunto vazio.
Não importa o que fomos, estamos prontas e juntas para recomeçar, reaprender.
Não importa nossas experiências ou falta dela.
Não cabe nada aqui, além do novo.
Taças vazias de agora em diante.
Sem culpas, cobranças sem necessidades de certezas.
Não precisa haver chão, terra firme tem seu ponto fraco.
Assim como o ferro é derretido pelo fogo.
Garantias não são nada, assim como o pra sempre, sempre acaba veja, pois somos mortais.
Eu tinha medos de tão segura. Eu tinha coragem de tão insegura.
Eu tinha... Passado.
Hoje... Eu tenho necessidade, urgência.
Amanhã ... impermanência!


_Keila Almeida_

quinta-feira, 9 de junho de 2016

O que me faz mulher?

O perfume, o cumprimento do cabelo, a forma de andar?

Despertar antes do nascer do Sol tem alguns privilégios e um deles é o silêncio, até que de fato o corpo inteiro acorde. Poder ouvir o nada, o nada por fora, o que diz o interior, as vezes é possível escolher o que ouvir quando o silêncio predomina, sensaçaõ gostosa essa de escolher.

Em frente ao espelho me preparando para sair, o radio ligado e uma música (que nunca ouvi antes) que dizia mais ou menos "você me faz mulher". Ouvir isso quebrou todo aquele silêncio.

Sera que é necessario um outro alguém para fazer ou trazer a definiçao de uma identidade?

Se tem um coisa que tenho e naõ define o que sou é a vagina. Pensar que minha genitalia define que sou mulher é pensar que mulheres que nasceram com pênis nao podem se identificar como mulheres que sao.

Pintar as unhas de vermelho, usar salto alto ou saia, o que me faz mulher? Essa pergunta me acompanhou hoje.

Se for a maternidade que faz alguém ser mulher, entao nao sou, porque ser mae (apesar de querer) esta longe de acontecer para mim.

Se é a forma de falar me traz uma incógnita, porque para mim, mulheres e homens podem abordar qualquer assunto, utilizando o linguajar que for confortavel para quem fala e quem ouve.

Se for a roupa terei dúvidas infinitas em certas comunidades e culturas.

De certo minha identidade de gênero me auxilia nessa questao, é assim que me identifico. Me identificar assim é confortavel, agradavel, me faz amar ainda mais o meu corpo. Identidade é mesmo individual e intransferível. Mas o que me faz mulher é ainda maior porque esta relacionado diretamente a minha história.

O que me faz mulher é minha aceitaçao por mim, pelo meu corpo. É a responsabilida que cresceu com ajuda do tempo.

O que me faz mulher é deixar a insegurança de menina e encarar os fatos, é pular em uma piscina de bolinhas sem pensar na idade que tenho, apenas na liberdade que sinto.

Ninguém me fez mais mulher...o tempo fez isso por mim e eu aproveitei isso dele. Isso é realidade para mim.

Dependendo da pessoa, dependendo dos fatos, me faz uma mulher mais feliz ou menos feliz, mais educada ou menos educada, mais gentil ou menos gentil, mais apaixonada ou menos apaixonada. Mas nada disso me faz menos mulher.

E a vulnerabilidade? Essa sim me lembra todos os dias do que é ser mulher.

Por: Renata


quarta-feira, 8 de junho de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto

Pela dádiva do esquecimento!

I'm going back to my roots
Another day, another door
Another high, another low
Rock bottom, rock bottom, rock bottom
I'm going back to my roots
(Roots – Imagine Dragons)

Deitada na cama, não consigo me mexer. Meus braços estão colados no meu corpo e minhas pernas não se movem. Elas estão pesadas, afundam no colchão. E eu escuto os passos.
Não consigo virar a cabeça, meu pescoço trava. Afogada no travesseiro, eu escuto os seus passos.
Não, não sou mais uma criança. Eu sei, é só um sonho. Abro os olhos, mas meu corpo não se move. E eu escuto os passos dele que atravessam o corredor.
Abro os olhos. Ainda é madrugada e o ar é tão pesado, difícil de respirar. Já estou acordada... parece que sim. Meu corpo é inerte e abro os olhos. Aqueles passos param, já beiram a porta do quarto.
Já não sou mais criança. Meu corpo estático no colchão agora é mortalha. Vejo tudo, mas não consigo dizer nada: a voz sufocada na garganta.
Ele já está aqui. Vejo seu contorno à contraluz, à beira perto da cama.
- Oi. Ainda acordada? Vim colocar você para dormir...
Fecho os olhos com força. Não, não quero ver nada.
Eu preciso esquecer daquele sorriso que pairava no canto dos seus lábios, toda vez que ele entrava no meu quarto. Eu só preciso esquecer.
Cris Couto, 06/06/2016

Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora. 
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feira
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terça-feira, 7 de junho de 2016

Não viver

Uma vez me perguntaram qual era meu grande medo. Respondi: Não viver.
Me responderam: "É verdade, morrer deve ser aterrador".
Corrigi: Não falo de morrer. Falo de não morrer. E não viver.
Como um grande limbo.
Sabe aquela coisa de "a gente se acostuma a não abrir a janela porque a paisagem não é bonita?"
Pois é. A quanta não-vida a gente é capaz de se acostumar?
Vi um filme certa vez onde as pessoas fugiam da escuridão. A escuridão as alcançava, invadia o lado de dentro delas e de repente elas desapareciam do nada. E a ultima coisa que diziam, antes de desaparecer, era: "Eu existo".
Assisti um outro filme. Uma moça tinha sofrido um acidente e estava em dúvida se estava viva ou morta, enquanto era preparada para o seu funeral. Diante de indecisão, o homem que prepara o corpo propõe que, se ela estava viva, então que fugisse, fosse embora. Ela tem medo e não vai. E ele diz: "Eu sabia. Você não tem medo de morrer. Tem medo mesmo é de viver".
Era algo assim. Não exatamente. Mas deu pra entender a ideia, né?
Não basta estar respirando. Não basta ser de alguma forma produtivo. Queremos mais. Nós, os curingas desse jogo, seres humanos, os únicos na natureza, segundo alguns, capazes de ter consciência da própria individualidade, capazes de tomar decisões que tornem nossas vidas medíocres ou talvez menos, ou em muitos instantes fazer dela a experiência mais extraordinária de todas, capaz de encher de inveja todo o resto do universo quando a gente vive aqueles momentos felizes de amor.
Você sabe, aqueles momentos intensos onde você pensa: "eu poderia morrer nesse exato instante, e então eu pensaria que minha vida foi uma fagulha que realmente valeu a pena, uma aventura incrível que fez sentido, finalmente".
Esse instante passa. E voltamos a ter medo de nada disso fazer sentido, de nada disso ter importância, de sermos uma peça de uma engrenagem para quem nossa existência ou desistência não faz a menor diferença.


"Viver ou morrer é o de menos
a vida inteira pode ser qualquer momento
ser feliz ou não: questão de talento

leve a semente vai
onde o vento leva
gente pesa
por mais que invente
só vai onde pisa (Alice Ruiz)

Qual seu momento hoje?

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Por que você foge do que sente?



Escrever sempre foi um desafio e um prazer. Escritores tem alma fluida, não dá pra explicá-los direito. É gente que faz as reflexões mais doidas e as divide sem prévio aviso, deve ser isso que vai nos mantendo juntinhos e dando força para continuar o sonho. Não raro a gente manda e recebe as mensagem mais malucas possíveis e delas vem um gatilho que fará a produção do mês seguinte.
Movidos por amor e coragem a gente segue em frente. E não foi diferente com o tema de hoje; recebi a mensagem, e pensei que fosse tema, mas era uma reflexão, que virou minha reflexão e meu tema.
Hábito dos mais estranhos esse, mas fugir do que sente é a forma mais comum de lidar (??) com o que não podemos lidar.  É claro que podíamos assumir nossos sentimentos, mas como mesmo? A gente vai esquecendo de facilitar as coisas e vai criando escapes que nos cabem bem, até a gente esquecer aquilo que sente.
Porque somos assim! Simples assim!
Só não é tão simples. Encarar nossos sentimentos com clareza, olhando nossas dores, e dissabores, nos olhos é sentir as feridas sangrarem. E a gente prefere deixar cicatrizar, mesmo que a cicatriz queime para sempre.
Essa nossa falta de coragem de gritar amor, raiva, saudade, tristeza... 
É tão mais fácil "matar" as coisas dentro da gente. É tão mais simples excluir aquilo que não sabemos lidar, aquilo que nos fere, principalmente se isso nos obriga a ver outras dores das quais já fugimos.
Mas por que, mesmo? Não há uma receita, nem mesmo uma resposta certa. Só os lugares para fugir e se esconder, e é claro que sabemos bem onde ficam. Não há um caminho que doa menos.
Eu acho que olhar nos olhos e dizer com clareza é o melhor remédio, mas isso nos leva ao medo do perdão; de pedir e de dar esse perdão. e não se engane, é tão difícil quanto assumir o que sentimos.
Ah coração nebuloso, cheio de cantos obscuros de si mesmo, lugares empoeiradinhos de algumas dores causadas pelo tempo, estrutura cansada de sentir e de fingir.  Fingir sim. Habilidade humana de completa insanidade. Fingir que sente, e fingir que não sente. E que atire a primeira pedra quem nunca fugiu de mesmo, quem nunca escondeu o que sente, e quem finge que não sente por ser mais fácil do que sentir.
E nessa vibe de tudo dito e nada explicado, saio sem responder, pois nem eu mesma sei quando ou porque. Então repito a pergunta, uma reflexão dividida no meio da noite:
- E você? Por que foge do que sente?




Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde 06/06/16
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