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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Quem nunca?

Quem nunca?
Mesmo adulto?
Mesmo confiante?
Mesmo sabendo que passa?
Quem nunca?
Sentiu o estômago queimar?
O peito dar nó?
Os olhos embaçar?
Quem nunca em um dia qualquer?
Chorou um pouquinho mesmo que baixinho?
Quem nunca?
Depois de crescido, com o coração ferido.
Se viu  adolescente cheio de inseguranças?
Querendo por um momento retornar e ser criança!
Quem nunca?
Num dia qualquer, com um brigadeiro na colher!
Deixou -se sentir, chorar e sorrir , curare se refazer mulher!




quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Cuidar de quem cuida

Das coisas que aceitei em mim uma delas foi ser cuidadosa. Sou cuidadosa e isso vai além da minha profissão.  Acho inclusive que foi por ser assim que me identifiquei com minha profissão,  como se sempre a tivesse em mim...precisei então do diploma para exerce la.

As vezes me surpreende ter pessoas ao redor que preferem não ser cuidadas. Mas o que mais me surpreendeu foi ver que uma dessas pessoas era eu mesma.

Sim, é tão natural cuidar, fazer, solucionar, amenizar a dor pra mim que não havia percebido que era preciso parar, me olhar, me perceber...me dar prioridade.

Uma das coisas que aprendi na teoria é olhar ao redor, avaliar e decidir o que é prioridade.
Acho que andei olhando bastante ao redor, esqueci de olhar por dentro.

Durante uma viagem recente à Bahia uma amiga me disse que eu era muito cuidadosa, ela não gostava muito, pois não era acostumada com esse cuidado.
Fiquei surpresa! Talvez porque as minhas amigas gostam de mim exatamente pelo que sou e como demonstro meu amor.

De repente eu me vi diante de um espelho e pensei em como muitas vezes me permito cuidar mas não, ser cuidada.

Desde então o trecho de uma música sempre vêm a minha mente: "Saber amar é saber deixar alguém te amar..."

Então, agora estou pronta, permito e aceito...aceito o amor que já recebo e me faz tão bem, que vem tão naturalmente que me faz viva.

Agora aceito o novo que está próximo mas não conseguia chegar porque estava protegida por mim mesma, pelas lembranças do passado,  pelas
escolhas que não foram tão boas mas que não foi culpa minha. Não foi culpa de ninguém.

Que venha as novas formas do cuidar.

Por Renata

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Carta à uma amiga

Querida amiga
Tenho sentido o tempo todo, bem forte, suas orações, seu carinho, sua acolhida todo o tempo a me amparar, mesmo diante de tanta distância física. Aqui as coisas foram vertiginosas. Na segunda passada, eu havia decidido que ia tirar uma licença, pois emocionalmente não estava mais dando conta do recado de despedir-me do meu pai e trabalhar ao mesmo tempo. Duas horas depois do meu pedido de licença ser aprovado, meu pai não estava mais nesse mundo. Chegou uma agente funerária, (ou agente familiar, como ela preferia) muito competente, e cuidou de tudo. Perguntou o que e como queríamos, repetiu mil vezes que em nenhum momento ficaríamos sozinhos... e de repente já era o velório do meu pai. Fui chegando lá e encontrando uma colega de trabalho na porta, e foi muito aconchegante receber um abraço tão carinhoso antes de ver meu pai no caixão. Quando estamos de luto, muitos gestos que antes passariam despercebidos enchem-se de importância. Entendi que aquela história de “não vou no velório porque prefiro guardar a imagem dele vivo”, que eu sempre acreditei, pode ser bem egoísta. A pessoa que morreu, morreu. Os que estão no velório estão ali pra abraçar quem ficou vivo e dizer: Escuta, eu nunca vou dar conta de substituir a pessoa que você amava, mas eu tô aqui pra você e você não tá sozinha”. Minha tia irmã da minha mãe até me disse isso com todas as letras: Sei que vocês tem companheiros e companheiras maravilhosos, mas se qualquer dia precisarem de abraço de MÃE, podem chamar que eu venho correndo. Achei aquilo tão amoroso, que chorei muito depois, porque sei que ela tava falando com todo o coração.
De vários jeitos diferentes, é isso que cada abraço diz. É isso que suas mensagens me disseram. É isso que cada olhar carinhoso reflete. Meu pai escolheu ser cremado, eu imaginava ver o caixão pegando fogo, mas não tem nada disso. Nos despedimos dele com três músicas lindas, cantadas pela nossa amiga Rosana. A primeira música foi “Que será será”, a segunda Voa coração, do Toquinho (acho que o nome da música é Ao que vai chegar, nunca mais vou escutar essa música sem lembrar do meu pai). E a terceira era um pai nosso, e o refrão era: “Eu quase me esqueci que o seu amor vela por mim”. Depois dessas três musicas, o caixão foi baixado para a cremação e fomos todos embora.
Chegar em casa. Quando eu chegava em casa, eu o via sentadinho no sofá, com as perninhas estendidas em um pufe. E eu perguntava como tinha sido o dia dele, e nós conversávamos um pouquinho e víamos o noticiário, e comentávamos sobre a bagunça que tá acontecendo no Brasil, sabe. E era um choque chegar e ver aquele sofá vazio, mesmo que já houvesse um mês que ele estava internado e portanto já há muito a rotina tivesse sido quebrada. Porque no ultimo mês não deu tempo de sentir falta dele no sofá, eu chegava correndo pra tomar banho, colocar água e comida pros gatos e correr pra passar a noite no hospital. Ou então capotava muito cedo porque estava exausta.
Essa semana eu parei. E então a minha noiva trocou a posição dos móveis, para que eu visse uma paisagem diferente quando chegasse em casa e não caísse no desespero a cada vez. (Ela que não me largou nem mesmo por um segundo, esteve segurando na minha mão o tempo todo e declarando amor todos os dias). Minha amiga fez coxinha de batata doce, já experimentou? E me trouxe. A coxinha tinha gosto de aconchego, sabe. Aliás, minhas melhores amigas não me deixaram sozinha. O dia todo recebo mensagens de “como você está?” “como se sente”? quer que eu vá dormir contigo?
Ontem, sem querer, eu dei uma festa em casa. Sim, explico o sem querer. Meu irmão disse que ia passar aqui com a minha cunhada pra me ajudar a separar as roupas para doação. Daí outras dias amigas me ligaram dizendo que viriam. Daí as melhores amigas também mandaram mensagem dizendo: Podemos ir aí? A gente leva um lanchinho da tarde. E quando eu vi, a casa estava cheia de gente, compartilhando memórias, histórias, me ajudando a carregar caixas e separar coisas, me dando coragem pra jogar no lixo o que não tinha motivo pra ser guardado, ouvindo minhas histórias... Era como estar mergulhada num grande abraço coletivo.
Terça-feira volto à vida normal. E então é que as ausências se farão sentir com força. Minhas amigas sabem disso e estão de prontidão. E sabe? É ótimo ter certeza desse carinho, desse aconchego, é ótimo saber que a gente merece tanto amor, ou que mesmo que não mereça ele existe assim mesmo.  

Estou me permitindo mergulhar no maior sentimento que tenho nesse momento: gratidão. A todos, por tudo. Cada pessoa, cada gesto... Obrigada! 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Precisamos falar sobre dor.


Esses dias pensei muito sobre dor.
Um amigo querido se foi, uma amiga querida e eu nos desentendemos, a saudade, a incerteza do amanhã, as lágrimas que chegam no meio da noite, a sensação de vazio, de solidão, o cansaço...
Essa coisa que, às vezes, tira nosso ar e a gente nem sabe ao certo como é que acontece. 
Essa coisa que a gente sente quando briga com o filho, com o amor, com o amigo querido.
Essa coisa que tira as palavras e deixa a gente seguir a esmo entre sentimentos.
A dor!
E aqui é um assunto vasto.
A dor do corte na pele, a dor da saudade (de novo) no peito, a dor da palavra dita de qualquer jeito, a dor da morte, a dor do termino, a dor do erro, a dor do acerto.
Sim, alguns acertos doem também.
E agora que sabemos quase tudo sobre dor, o que a gente faz com isso?
Ah, caro leitor, que caminho longo e individual temos bem aqui, não é mesmo?
Acho que não tem fórmula, não tem script, não tem certo ou errado quando se trata de sentir.
Quando terminei um romance, há tempos, lidei sofrendo e com depressão, a recuperação veio só depois. Quando meu filho me ofendeu, a dor foi tratada com lágrimas e longos dias de quase completo silêncio. Foi necessário. 
Quando doeu sentir o desprezo, quase sem querer, de uma amiga querida eu chorei. Quando doeu ver o pavor no rosto da outra amiga, eu ficava até de manhã no telefone; até saber que ela dormiu em paz. Quando doeu ver a outra amiga sofrer a perda do seu pai, eu abracei. 
Quando dói olhar a vida como segue agora, eu me calo, me permito uma lágrima e vou em frente.
A dor é parte da vida, é parte do todo, é parte do ser.
A dor é um pouco do que somos e um pouco do que provocamos.
Então, que sejamos capazes de entender mais e ferir menos. 

Beijos Azuis


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
Para ler mais,e ver por onde ha traços meus. clica aqui, vai te levar ao facebook.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Tempo de refletir







Paredes e paradoxos o que tem em comum?
Pontes e provérbios levam a lugar algum?
Pessoas e Poemas quem os entendem?
Partir ou Pensar?
Parar ou Par?


_ Keila Almeida_

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O Silêncio dos Céus

Esse é o título de um filme que eu não assisti ainda e na verdade não sei do que fala, mas, veio de encontro ao meu pensamento. 

Acredito que a vida continua em algum lugar quando a vida acaba aqui, isso me conforta, me faz viver com alegria e me dá a esperança de que um dia reencontrarei aqueles que partiram e que amo (espero que demore esse reencontro, mas espero que aconteça). Mas antes disso acontecer fico pensando que talvez fosse menos doloroso ou houvesse menos saudade se o silêncio do céu pudesse ser quebrado, uma vez por ano, talvez como presente de Natal, de aniversário,  um presente qualquer em qualquer dia. Mas seria um presente se pudéssemos escolher com quem falar.  Não avaliei nenhum fato, só pensei no fato de quebrar o silêncio e diminuir a saudade apenas. 

Depois pensei em quanto silêncio temos dentro de nós, daqueles que não temos coragem de dizer nem para nós mesmos, para a melhor amiga ou para a terapeuta. 

Se acreditar que existem Deusas, algo superior, oniciente, então esse silêncio é quebrado, pois no além alguém sabe. Se sabe mesmo não foi eu quem contou. Sabe por si só. 

Das culpas que não temos, das mágoas que tivemos, dos amores que vivemos ou dos que não vivemos.  O silêncio. Do grito de socorro que não foi possível gritar e depois ninguém acreditou que era perigo, a culpa então era sua, se não gritou foi por que gostava. "Quem cala, consente". Não! Nem sempre. 

O silêncio que se estabelece involuntariamente para manter a aparência da boa família e bons costumes. 
Toda família tem um silêncio para guardar.  Todas as pessoas têm. 

O silêncio da chegada e o da partida.
O silêncio daquilo que tanto doeu, mas que pode doer tão mais no outro que o melhor é silenciar,  afinal palavras podem ter respingos em quem não têm a culpa.

O silêncio dos olhos apaixonados.

Aquele que traz arrependimento quando não tivemos coragem de quebra lo para dizer algo tão importante, demonstrar de amor, carinho ou respeito. 

As vezes é possível entender quando alguém grita. Pode ser que para esse a quebra do silêncio seja tão difícil, que se deixar o impulso passar, passará também a coragem de dizer,  de expulsar, de deixar fluir o que é bom e ou o que não é. 
 
Ele é válido e pode ser quebrado se assim quiser, se assim for necessário.

Para reorganizar pensamentos e sentimentos, reviver bons momentos, se despedir ou receber.  Se dosado o silêncio é um aliado. 
Para uma memória, o respeito ou reverência, para chorar, lamentar ou recomeçar se faz tão essencial. 

Para o silêncio que jamais será possível quebrar dentro de cada um, um minuto de silêncio. 

Por: Renata





quarta-feira, 21 de setembro de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto

DOS MÍNIMOS

O mínimo é o ponto de honra. Menos que isso, não dá!

Cada um faz sua lista de mínimos sobre o quanto cede e o quanto precisa receber da vida e das pessoas com quem se relaciona. Os mínimos sustentam os laços que mantemos com o mundo e a humanidade.

Os mínimos garantem nossa identidade e integridade. Os mínimos movem nossa ética dentro das moralidades que organizam nosso ser e estar no mundo.

Meus mínimos para amizade são respeito e carinho, respectivamente.

Para conviver com alguém ou em algum lugar, você precisa sentir que tem sua existência considerada tal como você se vê no mundo.

O respeito como mínimo de uma amizade implica na possibilidade de expressar-se, na recepção do outro mesmo sem sua adesão.

Se o outro é incapaz de emanar algum sentimento bom por você, vale a pena verificar a existência de um real vínculo de amizade.

Pessoas ficam ao lado uma das outras por razões desvinculadas da amizade, que variam desde a enaltecimento do ego até as vantagens utilitaristas.

Vale a pena tatear, por vezes, nossos mínimos. Sentir se eles estão preservados. A garantia dos mínimos é chão frente à quebra de expectativas.

Cris Couto, 21/09/2016

Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora.
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feiras
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terça-feira, 20 de setembro de 2016

Despedida

Hoje estou velando meu pai...
A maioria das pessoas tem a mãe como principal referência afetiva de amor incondicional, como modelo de afeto. Pra mim sempre foi meu pai. Com sorriso largo e olhar doce, era ele quem me colocava na cama a noite. E cantava pra eu dormir. Até cansar. E quando, depois de passado todo o repertório, eu ainda estava acordada, ele me fazia carinho nas costas e dizia "agora vamos dormir senão o lobo mau vai comer todos os nossos filhotinhos de chuchu que moram no quintal."
A gente plantava chuchu no quintal, sei lá por quê.
Ele tocava violão pra mim. Ele me fez um caleidoscópio. E uma cadeirinha de balanço, e uma balança de verdade pra eu brincar. Ele não saía pra quitanda do final da rua sem me levar junto.
No meu aniversário de nove anos, ele me deu um porquinho-da-india. E fez o viveiro do bichinho, e a gente ia no terreno baldio atrás de casa pegar capim pro bichinho comer, que meu pai achava que ele não podia comer só ração.
Quando minha mãe estava morrendo, ele se abateu e eu voltei a morar com ele. Eu queria cuidar dele. Mas ao invés disso, ele cuidou muito mais de mim. Eu resolvi tirar carta e ele me levava para a escola todos os dias, até sentir confiança que eu podia mesmo ir sozinha. Ele ia e voltava, ia e voltava comigo da escola.
Ele viu todas as minhas peças de teatro. Ele viu as peças de teatro dos meus amigos, a cada estréia. A gente levava meu filho pra ver cinema infantil e ele se encantava com os desenhos. Ele sempre esteve comigo.
E agora... ele não vai voltar. Na casa vazia onde tudo tem a presença dele, eu olho cada canto, cada artesanato que ele construiu, o violão dele calado há tempos.

É a minha vez de ter o sorriso terno. É a minha vez de cantar pra ele dormir. É a minha vez de contar historinha pro meu filho. É a minha vez de experimentar, como eu disse bem juntinho dele, que o amor vive pra sempre na alma de quem a gente amou. Ele é a pessoa que mais me amou nessa vida. E eu o amarei pra sempre.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Precisamos falar sobre as necessidades que temos.

Esse texto poderia ser sobre você, sua mãe, sua irmã, sobre uma amiga qualquer. Mas eu o farei sobre mim (ou sobre nós) receba-o como melhor sentir.
Eu necessito!
Necessito de tempo de estar, tempo de ser, tempo de pensar, tempo de falar, tempo de agir. 
Necessito do meu canto, do lugar onde estou segura. Necessito dos meus filhos, ainda que falando pelos cotovelos, me chamando a cada 10 segundos. Necessito do meu gato miando enquanto passa pelas minhas pernas me fazendo tropeçar, atacando meus pés por cima do edredom, a cada mexida que dou. 
Necessito do meu quarto com sua luz indireta, das fotos que me cercam, me dando a lembrança dos momentos vividos. Necessito dos meus livros, fazendo seu papel de oráculo para consulta, a cada duvida da faculdade ou a cada incerteza da palavra em espanhol. 
Necessito do meu edredom azul e seu silêncio quando, debaixo dele, deixo as lágrimas que me consomem de vez em quando. Necessito da minha família, ainda que me criem de seus julgamentos . Quem nunca? 
Necessito dos meus amigos, que estão ali, para me acolherem, mesmo que eu não peça a acolhida. Necessito das musica que me marcaram na vida e contam, de algum modo, minha própria história. Preciso do meu modo de ser para continuar caminhando, ainda que os passos sejam torpes.
Necessito de um pouco de espaço para me refazer, pois a cada semana, que termina, sinto que estou me esgotando por conta da minha própria dor; e não ter esse momento me mata para os dias seguintes e eu sigo por eles zumbi da minha própria existência.
Necessito de uma auto analise constante pois sou feita das experiências que vivo e com elas vou sendo melhor ou pior a cada passo. Necessito do perdão que me peço e que me dou quando vejo que errei em um julgamento, em uma atitude. Necessito rever meu repertório e meu discurso e seguir adiante tentando fazer mais acertos que erros.
Necessito espalhar amor e também afeto, até para compensar o tanto que não recebi, seja por mim ou pela vida. Necessito dizer o que sinto e fazer-me coerente em discurso e ação. Necessito dizer que amo, a todos os que amo, todos os dias, se possível, para que não se perca a certeza desse amor acima dos demais acontecimentos da vida.
E necessito, sobre todas essas coisas, o silêncio!

Beijos azuis 


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Falamos de sorte

Falei sobre sorte e você me ouviu, delicadamente me respondeu e então mostrou outro olhar para ver a sorte.

Tudo me fez pensar, me lembrei de uma época em que a sorte era eu não ter morrido e você me acolheu e tive sorte outra vez.

Depois do trauma o sono demorava a chegar,  esperava as sextas feiras a noite e só naquelas noites era tranquilo. Sorte a minha ter as sextas a noite para dormir tranquila, de outra forma não teria sequer uma noite.E foram meses.

Em uma outra época recebi uma mensagem com uma canção para alegrar o meu dia,  você dizia que parecia comigo aquela canção.
Sorte a minha receber aquela mensagem porque de fato a canção me descrevia, mas eu nunca ouvira daquela forma, com aquele olhar e aquela alegria.

Antes dessa época fui comemorar o seu aniversário.  Você não foi, rs.
Dancei como se não houvesse amanhã naquela noite.
Sorte a minha em conhece la tempos depois,  sorte a minha ter dançado aquela noite.

Cada um tem uma forma de ver o mundo,  de dar continuidade ou finalizar as coisas.  Cada um tem sua história, suas dores, suas memórias.
Mesmo com tantas dores você abriu os braços e me acolheu. Hoje quem a acolhe sou eu e será assim, porque o universo me deu você de presente e eu tenho o seu bem mais precioso,  a amizade.

Eu tenho sorte.

Por Renata


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

ACORDA NEGA! por Cris Couto

ENCAMINHAR

Gente, sempre fico encantada em perceber como as palavras são belas!
Quando as pessoas que amo passam alguma situação difícil, provação ou turbulência na vida, costumo dizer:

Persevere! Com calma as coisas se encaminham.

Calma, não quer dizer parado ou em repouso. Mas sim, a necessidade de serenidade e tranquilidade para passar, a bom termo, as provações de determinados momentos de nossa vida. Como diz a canção:

Tudo é uma questão de manter a mente quieta, espinha ereta e coração tranquilo.
(autoria de Walter Franco, na voz de Lelia Pinheiro ou Pato Fu ficou linda!)

E, por isso, a ação das revoluções e mudanças de nossa vida precisam ser calcadas no perseverar.
Retroceder nunca, render-se jamais!
(título inspirador de filme com Van Damme, lançado em 1986)

Agora, veja a beleza da palavra encaminhar: EN + CAMINHAR. Em caminho, no caminho.
Após mudanças, ainda mais após grandes e turbulentas mudanças, é necessário que continuemos caminhando para que os encaminhamentos que desejamos aconteçam.
          Se ficarmos estáticos, parados diante das provações e turbulências, acumulamos sofrimentos no corpo e na alma na forma queixas e lamentações corrosivas e nos impedimos de criar novas oportunidades, outras possibilidades de renovação e felicidade em nossa vida.
Assim, finalizo este texto renovando a leitura do poema Antônio Machado:

Caminhante, são teus passos
o caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar se faz caminho,
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se voltará a pisar.
Caminhante, não há caminho,
mas sulcos de escuma ao mar.
(Antonio Machado,  poema XXX de Proverbios y cantares, 1983)

Cris Couto, 14/09/2016


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terça-feira, 13 de setembro de 2016

Precisamos falar sobre o medo.

Que atire a primeira pedra quem não sente medo.
Não apenas o medo de rato ou o medo de barata, mas o medo da perda, o medo da dor.
Hoje eu quero apenas que pensemos em nossos medos, que os peguemos no colo e cuidemos deles.
São a parte de nós que nos lembra que somos humanos, inteiros, frágeis, 
Medo não é vergonha, é sensibilidade.
Eu tenho medo. Tenho medo de perder os que me são preciosos, de não dar conta amanhã, de não perceber o importante, de não seguir em frente. Os dias da caminhada são intensos, e seguir superando os temores, nos fazem ainda mais fortes;   


Beijos azuis

Escrito por Mariah Alcântara
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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

ACORDA NEGA! por Cris Couto

Brasileirinhos

Cá estou eu com eles, novamente, para aprender.
Sair com crianças da escola fundamental I para o desfile de Sete de Setembro requer logística: conferir autorizações e crachás, contar e recontar crianças, lanche, água, banheiro e ônibus.
No desfile, a turminha puxava o coro “Sete de Setembro! Sete de Setembro!”. Quando interpelados sobre o motivo da comemoração, um deles, com dificuldade, puxou da memória a palavra “independência”.
Já seria triste apenas reproduzir a história dos vencidos, mas parecia que nem esta se fazia presente na memória dos participantes daquele repertório festivo.
Chegamos com tudo acontecendo. Descemos do ônibus e entramos na fila já formada, atrás da faixa com o nome da escola. Todos estavam enfileirados para dar a ver os homens políticos que gerem nossos impostos.
Passamos às pressas pela avenida, com a torcida mirim para que a chuva aumentasse. Em alguns momentos, a faixa com o nome da escola nos serviu de cobertura contra a chuva forte.
E esse foi o sentido cívico do ato: aparência de agradecimento ao que deveria ser nosso por direito.
Molhados e com frio, subimos no ônibus de volta para a escola.

Cris Couto, 07/09/2016


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terça-feira, 6 de setembro de 2016

O direito à desistência

“Estátuas e cofres e paredes pintadas ninguém sabe o que aconteceu...
Ela se jogou da janela do quinto andar, nada fácil de entender...
Dorme agora... é só o vento lá fora...”
Um dia dessa semana meu pai me olhou e disse: “Você precisa entender, eu estou desistindo...”
Algumas vezes, o cansaço toma conta. Atire a primeira pedra quem nunca, nem mesmo por um instante, pensou em como seria bom deitar pra dormir e nunca mais acordar. Eu já pensei. Porque as vezes tudo é cansaço. Nesses momentos, dedos apontados nos dizem muito pouco. A culpa não ficará maior, ela já é imensa. Sabemos que temos pessoas que dependem de nós e não precisamos ser lembrados disso. Sabemos que a vida pode ser linda algumas outras tantas vezes.
O mundo se reduz. Tem dias que dói. E quando dói, a vontade é apenas fazer a dor parar. Talvez não seja o desejo tão consciente de atentar contra a própria vida. Mas apenas fazer parar. Fazer parar o monte de responsabilidade que sufoca a vida. Fazer parar a dor que aperta dia e noite, e grita e atordoa. As vezes o desejo da morte é apenas um desejo momentâneo de que o corpo silencie. De que os pensamentos parem de gritar enlouquecidos. De que a doença não agrida. De que a solidão não esteja corroendo por dentro.
Se você tem alguém querido te dizendo que está desistindo, entenda: Isso não é sobre você. Não é nada que você tenha feito, ou deixado de fazer. O outro tem suas próprias questões. Todos tem o direito de estar cansados. Redobrar o acolhimento é importante. Não minimize a dor do outro, mas procure entender. Calçar os sapatos do outro e andar alguns quilômetros. A dor que corrói a alma dele merece ser legitimada. Precisa ser reconhecida. Quando meu pai ficou muito doente, os enfermeiros diziam que ele estava ótimo. E ele, no auge do mau humor que só a dor é capaz de oferecer, algumas vezes respondia sussurrando: “Não estou ótimo, estou morrendo... e vocês fingindo que não tá acontecendo nada”.

Muitas vezes, estamos impotentes diante da dor alheia. A aflição de não ter o que fazer nos exaspera. Mas tenho aprendido que as vezes quando não se sabe o que dizer, fazer silêncio acompanhado de um abraço apertado, e até algumas lágrimas compartilhadas podem aliviar. A nós e aos outros. A gente não precisa estar bem 100% do tempo. Existe cansaço, tristeza, desespero, aflição. E a gente tem o direito de experimentar, vivenciar... Atravessar e sair do outro lado, percebendo que amanhece. Sempre amanhece. Seja como for. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Precisamos falar sobre orgulho.

Orgulho é um sentimento difícil  de lidar...
Outro dia uma querida me disse que "orgulho não cabe em nenhum tipo de amor". Essa é umas das grandes verdade da vida. E quem de nós nunca cometeu a falta do orgulho?
Quando a gente ama alguém e se recusa a aparar arestas, se recusa a estar junto, se recusa a participar, antes de ter tentado tudo, é amor ou orgulho que nos move?
Quando a gente se sente ferido, e fere de volta, ou simplesmente mata em vida o que nos feriu, sem entender que uma história tem dois lados, o que nos moveu, além da raiva, foi magoa ou orgulho?
Orgulho ferido é arma ferina, e a gente usa sem titubear, usa sem pensar e usa sem medir.

Eu acho que carrego na alma um certo "quê" de amor incondicional, embora eu me defina condicional, (Minha condição é que seja bom! Que faça o bem! Que seja sincero!). Mas realmente não me cabe, não me contempla um amor que acaba em uma voz apenas, sem direito de outra voz se manifestar.
Eu tenho pensado muito em orgulho e em como isso é dentro de mim. Em como cometo falhas, por vezes irreversíveis, por mero orgulho. Perco tantas oportunidades de estar junto, estender a mão, abrir meu abraço. Quantas vezes deixei passar a chance de me dizer errada e assim crescer como pessoa.
Orgulho não é um mal absoluto do ser humano! Não mesmo!
É preciso entender que é uma característica, e quem trabalha as tais características somos nós. Somos nós que fazemos delas "qualidades" ou "defeitos". Eu sei o quanto eu perdi, ou apenas deixei de ganhar (mas esse apenas é tão grande que caberia uma vida...).E algumas perdas podem ser irreparáveis.

E você, como lida com seu orgulho?


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A continuação de nós

Me lembro quando era criança, bem pequena e minhas pernas ficavam balançando quando eu sentava na beira da sua cama, que por vontade ou não, você dividia comigo.

Ainda me lembro do gosto e do cheiro da mamadeira que só você sabia preparar e secar porque eu não gostava dela molhada.

Ainda ouço o som da nossa voz rindo e dançando na sala e eu nos seus ombros e do seu grito e seu choro quando não conseguiu evitar que me derrubassem.

Ainda lembro da sensação de te ficar sem você durante as longas tardes de aula.

Me lembro de você me perguntando qual era o meu sonho, quando eu era criança e de me responder sempre dizendo: então você precisa estudar muito para realizar!
Naquela época eu não conseguia entender porque estudar, se trabalhar é que trazia dinheiro.  Hoje eu sei!

Me lembro da sensação de ir ao cinema no Centro da cidade e me senti a menina mais importante do mundo por você me dar a mão para atravessar a rua e por me ensinar a fazer isso sozinha. Assistimos A Bela e a Fera.

Me lembro das músicas da Marina Lima, Ana Carolina, Caetano e Gil pela sala nas manhãs antes de ir pra escola e do horário de assistir a TV, que era dividido para não dar briga.

Das ligações para avisar que estava do outro lado do país,  só depois que já estava lá e nada mudaria aquilo que você precisava viver.

Das conversas intermináveis de madrugada e da forma de ver o mundo pelos seus olhos e você pelos os meus.

Das brigas com e sem motivos e das pazes que nunca deixamos de fazer. Dos segredos guardados a sete chaves e que hoje nem são mais segredos.

A sensação de perceber que você escolheu não voltar para casa que me arrancou o chão, mas que depois consegui e ainda consigo entender exatamente o porquê.

Ainda tenho sonhos depois de realizar alguns, um deles é ter maia que um filho.  Duas filhas talvez.

Pode ser que seja egoísmo da minha parte ou apenas um sonho nostálgico, porque meu sonho mesmo é ter uma continuação, de mim e de você e se eu der essa sorte para a minha posteridade terei a certeza de que valeu a pena. Pois valeu a pena vier tudo que vivi e ser dessa família porque tenho você.

Por Renata