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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O que passou, NÃO passou!

Falar sobre retrospectiva nesse período do ano é (como diz Mariah...) clichê.
Gosto desse balanço geral que é feito no final de cada ano. Inclusive faço o mesmo no final de cada ano pessoal (na véspera do meu aniversário).
Este ano definitivamente não foi considerado aquele ano que passou rápido. Muito pelo contrário, foi vivido intensamente, dia após dia.
Não foi como um passe de mágica, até gosto de mágica as vezes, mas combino muito com o que é real, mas, 2016 não deu brecha. Coloca realidade nisso.
Um ano de verdades, de ver o que sempre esteve diante dos olhos e eu não via. De escutar coisas que nunca escutei (e não foram elogios). Ano de perceber que cada um cuidará mesmo de si e que se eu ficar cuidando apenas do outro, falharei com a pessoa mais importante do mundo para mim, Eu.
Amor próprio não é egoísmo não, é amor. É amar incondicionalmente alguém e fazer tudo por sua felicidade, aprendendo, ensinando e seguindo.
Isso é comum quando se trata do outro, mas se, se trata de nós mesmos soa como egoísmo. Não! Há menos que esse "tudo" ao qual me referi se transforme em falta de respeito, educação, falta de compaixão e empatia...só então é necessário pensar. Não é necessário quebrar os príncipios do bem e da cidadania e dizer que é em prol do amor próprio.
Tratar as pessoas como gostaria de ser tratado para mim, também é amor.
Essa questão de tratar as pessoas com respeito me fez entender durante esse ano que, não dá para tolerar a falta dele quando ou tratada.
Tantas vezes ouço falar sobre o perdão e tolerância, mas, esse ano talvez algumas pessoas tenham abusado disso.
Cada lágrima derramada valeu a pena. Sem elas provavelmente eu não seria a mesma. O sofrimento faz amadurecer e as alegrias vêm para me fazerem acreditar que cada esforço valeu a pena. E foram muitas!
Adeus 2016! O ano vai, mas o aprendizado fica. Não passará! Só dessa forma vou conseguir ir em frente.
Que venha mais um ano, com os frutos da grande plantação.

Por: Renata


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O ultimo post

... De 2016. Dá até um arrepio pensar que o próximo texto já será em 2017. Onde você estava no final de 2015?
Eu morava num país governado por uma presidenta. Eu tinha um emprego. Eu estava sem grana pra caramba, mas achava que a vida financeira ia melhorar em breve. Eu era solteira, tinha um filho. Na ceia de Natal, estávamos apenas eu e meu pai. Fiz um frango assado delicinha pra nós. Tinha planos pro ano que se anunciava.
Hoje, não tenho mais meu pai. Não tenho mais presidenta. Estou casada e tenho quatro meninos. Tenho dois empregos ao invés de um. Mas continuo sem grana. Eu tenho planos pro ano que se anuncia?
Cara, nem sei. 2016 foi tão difícil, fui atropelada de tantas formas... Claro que teve a parte boa, mas a tentativa de sobreviver foi tão intensa que não sobrou muito tempo pra sonhar. O que desejo desse ano, além de conseguir manter-me em pé? Se eu pudesse resumir 2016 numa única situação, seria assim: a pessoa é engolida por uma onda, toma um caldo. Antes que possa levantar, outra onda a cobre completamente. Ela tenta levantar a cabeça e respirar, mas as ondas se sucedem numa velocidade vertiginosa, e então ela desiste. Deixa vir, deixa ser, deixa-se ser engolida pela avalanche até estar soterrada. Depois, flutua. Mergulhada no silencio. No dia seguinte. Estamos aqui.

Então, os planos para  2017 incluem voltar a respirar. Perceber onde fui parar. Fazer as escolhas, com leveza. Retomar pontos importantes que ficaram no caminho. Aprender. Decidir.

Na figura: Cena do filme Elena, imagem disponível em http://www.elenafilme.com/blog/ 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Precisamos falar sobre o fim do ano.

Clichê, não é?
E se eu disser "Então é natal e o que você fez"? Querem correr? É a hora, pois continuo clichê.
A verdade é que todos os dias não faltam reclamações de 2016 e não é sem motivo. Bora combinar que este está sendo um ano do "tinhoso". Tivemos como saldo golpe politico, violência declarada, morte e mais mortes, e a gente reclamou e reclamou, dá lhe atualizações no facebook, dá lhe declarar nosso azar, dá lhe reclamar;
E se eu disser que política sempre foi um jogo sujo? Que violência nunca foi escondido, a gente é que ficava na bolha? Que só morre quem esta vivo e ninguém fica pra sempre? Que a "má sorte" trouxe tempo, espaço, reflexão e possibilidades?
Otimismo? talvez!
Mas estou tendenciada a achar que é mais uma forma de ver as coisas pelo os dois lados, para não me deixar cair na tentação de só reclamar; pois a vida também não foi nada fácil para essa que vos escreve.
Mas vem cá, dá uma olhada aí em volta, nada valeu a pena mesmo? Nada te fez  pensar que VOCÊ pode ser melhor?
Eu começo a achar que nosso mal é esperar um mundo melhor, pessoas melhores, dias melhores, momentos melhores; mas... quando é que a gente vai ser melhor, também, para acompanhar esse monte de melhorias? Final de ano é quase inevitável fazer aquela reflexão de como foi o ano e aquela mentalização de como será o próximo ano.
Me too, babys!
Sim, dessa vez eu fiz mesmo! E fiz assim, uma coisa grande, do tipo:
O que foi esse ano com tanta maldade e tudo dando errado? E as pessoas que ficaram no caminho, mesmo que eu as ame com loucura? E os discursos que leio e desprezo, mesmo sendo de pessoas que gosto? Quem eu era, sou, quero ser.? E tudo aquilo que eu digo, que professo, que acho tão coerente, mas que não tem nada a ver com quase ninguém que não seja eu mesma?
Minhas meras conclusões são:
O ano foi aquilo que fizemos dele, escolhas, luta e labutas, tentativas, erros e acertos. A maldade estava fora e dentro de nós. A vivemos e a causamos. Foi escolha e consequência, nossa responsabilidade. Que a liberdade seja nossa substância! E o seja em todos os dias.
Quem ficou no caminho escolheu ficar, escolheu estar distante, escolheu cortar os vínculos e me doeu tanto, que mesmo eu dizendo que estava tudo bem, não estava. A dor era latente. Mas agora, no final, eu entendi. Aceito essas decisões. Simplesmente não há mais espaço para essas pessoas na minha vida e elas fizeram a gentileza de sair. Amor é travessia! Essa fase foi atravessada.
Os discursos que leio e desprezo por não me dizerem nada, nem foram escritos para mim. São de pessoas maravilhosas que ainda poderão se desconstruir (ou não), mas que apesar de ainda não terem uma visão abrangente de uma serie de coisas, não são menos importantes nem menos inteligentes. Então, se os discursos não são para mim, se não me dizem respeito e se não me agregam nada, para que eu os leio, ouço, acompanho? Me cabe simplesmente não estar lá e caçar os lugares que me servem. Leveza é uma escolha! Está escolhida aqui.
Quem eu era não me veste mais, Quem eu sou é a verdade de tudo o que eu sinto e aprendo. Quem eu serei é o casamento do que eu digo com o que eu faço, ainda que me doa de vez em quando. O que eu professo é o que me cabe e não quero que seja verdade ou manual para outrem, mas quero que carregue aquilo que eu sou; e que mesmo dito aos ventos, que seja aquilo que me representa de fato, para que eu não me arrependa de ter proferido. Felicidade é só questão de ser! E eu sou, simples assim.


Beijos Azuis!
Feliz ano novo e até logo!



Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
Para ler mais,e ver por onde ha traços meus. clica AQUI.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

As festas da Vida

As pessoas vão chegando aos poucos ou em grupos pequenos, vão se acomodando, se sentindo à vontade.
Têm abraços, músicas e as vezes também têm presentes, embrulhados, decorados e o mais importante, preparados para você.
Têm som de risadas, músicas, reencontros e conhecer pessoas novas.
A decoração fica por conta e quando não têm, não há problemas, geralmente as pessoas estão mais focadas umas nas outras.
Particularmente, adoro festas e mais do que isso, adoro os detalhes que as envolvem. As pessoas geralmente estão na mesma energia, mesma sintonía.
São pessoas saindo de vários cantos da cidade, e até de outras cidades, que se preparam dias antes, imaginam a roupa, programam as agendas, trocam os horários, preparam os filhos, as malas e se protificam a estar ali com você.
Há quem diga que para festas temos muitos amigos, mas no momento em que mais precisamos, não!
Penso que em festas também é necessário a presença dos amigos. Não imagino fazer uma festa e convidar desconhecidos ou apenas colegas.
Nos momentos mais difíceis a energia e a necessidade são outras sim e eu tenho a sorte e o prazer de ter em qualquer desses momentos, os mesmos amigos. Inclusive alguns desses amigos têm o meu DNA e é bem legal ter parentes amigos.
Passo um tempo imaginando as horas que uma pessoa passa para fazer um prato saboroso para compartilhar em uma festa. Os ingredientes adicionados pouco a pouco, o tempo no forno, as horas gastas nas filas dos supermercados, o tempo que poderia ter sido gasto com qualquer outra coisa, mas foi gasto em prol de ser, fazer e ver as pessoas felizes.
Nesse período do ano é mais fácil e comum ouvir e falar sobre festas. Mas os detalhes que as compõe é o que mais me encanta, o que mais me alegra.

Por: Renata

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

O mundo tá um caos

Daí hoje foi aprovada de novo a PEC que limita os gastos públicos. Na prática, a “economia” que tenta devolver nós pobres pro lugar de onde eles acham que nunca deveríamos ter saído. Nós que nos atrevemos a fazer faculdade. Nós que não estávamos mais nos sujeitando ao lugar que nos era reservado desde sempre: as casas dos patrões lavando, passando, cozinhando. Como assim o filho da empregada ousou ser doutor? Como assim a dona de casa teve a petulância de cursar engenharia civil? Como assim a “favelada” entendeu que podia ser dentista? A partir de hoje, tudo caminhará pra que essa gente não saia do lugar social que lhes foi destinado. Que falte educação, que falte saúde, que falte condições.
Sim. Dá medo. Dá medo pelo meu filho que estuda em escola pública. Pelos meus enteados que usam a saúde pública, já que os convênios só concedem cobertura para quem tiver a guarda das pessoas...
Mas sabem? Apesar de tudo...
Eles não conhecem o poder da nossa resiliência, perseverança e resistência. Essas serão as chaves de 2017 que começa. Parte de nós se alimentou a infância toda de arroz com feijão, (ou só um desses dois, quando só tinha um), com água de sobremesa. Parte de nós se alimentou com polenta com couve, era o que tinha. Nossos brinquedos eram todos inventados com tudo que se achava. Cinco pedrinhas, que passávamos horas jogando pra cima e treinando habilidades motoras. Pauzinhos pra cavar a terra e achar tesouros...

Nós resistimos. Nós sobrevivemos. E podem morrer de raiva. Nós vamos continuar encontrando brechas pra crescer e buscar a liberdade. E ensinaremos nossos filhos a arte de sobreviver. Apesar de vocês. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Falar sobre o não existir

Cada um têm um limite, uma dificuldade. A minha é lidar com a morte.
Talvez ela seja um mistério por não falarmos sobre isso naturalmente.
Desde a infância, mais do que o sexo, a morte é um tabu. Em meio as superstições dos adultos, uma delas era: desvirar o chinelo, senão a mãe morre.
O fato de imaginar que minha mãe morreria já me gerava uma tristeeeeza.
Ter um corpo inerte, sem vida, sem expectativa de levantar, é algo que não me deixa confortável.
Olhar para alguém que nunca mais terá amanhã nessa terra, me deixa inquieta. Deve ser porque, de repente, há uma certeza indiscutível de que isso será o fim de todos nós. Cedo ou tarde, um dia será a minha vez também (espero que seja tarde rs).
O não existir é quase inimaginável.
Uma das coisas que mais me assusta na morte é saber que, não importa por onde andar, nunca mais será possível ver a pessoa (exceto pelos olhos espirituais, aos quais eu creio). Apaga-se o cheiro, não haverá mais o cheiro da comida no ar. Tudo que haverá será lembrança que, com o tempo, se perderá e ficará guardada em algum lugar no universo chamado Eu.
A morte é poderosa, finaliza historias, sonhos, esperança. Então, prefiro acreditar que quando o corpo finaliza suas funções vitais o espirito vive em algum lugar que de vez em quando pode até nos visitar; deixar um pouquinho de sua energia e diminuir a saudade aquecendo o coração, deixando uma pontinha de vida.
A despedida têm várias formas de ser e entre todas elas quisera ter a sorte de ser numa cama quentinha, na velhice, depois de comer a comida predileta e me despedir de todas as pessoas queridas do meu coração.
Enquanto a velhice (bem velhice) não chega, vivo cada dia com intensidade com uma paixão interminável por essa tal de vida que está em todos os meus poros.

Por: Renata

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto

Eu não quero me perder
“Não me ensina a morrer
Que eu não quero
Há diferença abstinente
No prosseguir da gente
Sei que a tendência
Anda nas frestas
No decidir da mente”
(Marisa Monte – Perdão você)
 
Só e grata. Portos emocionais não são seguros. Você já percebe isso que consegue ficar sem eles. O vício de completude inebriante é revelado em sua essência: vaga tentativa de preencher a lacuna inapreensível.
Ser um contorno. Passar uma vida tentando descobrir: do quê? Disposição para sentar à luz do fogo e olhar à contraluz as sombras projetadas na caverna. Parcas são as pistas, inexatos os sentidos atribuídos, provisórios como nossa passagem pelas cenas da vida.
Gostos e aromas atraem. Cores vivas saltam aos olhos. Melodias envolvem. Corpos encantam e seduzem. Sinta o mundo. Sinta tudo. Sinta mudo. Sinta-se. Perca-se nos/dos sentidos e encontre-se no viver.

 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O celular

E então quando eu ouvi o barulho do meu celular mergulhando na água, sério, o meu coração quase parou. Eu o peguei quase imediatamente de volta, ele pingava por todos os lados. Sequei, cuidei... Estava desligado. Medo de ligar e ele queimar de vez.
Mandaram colocar no sol. Mandaram colocar no meio do arroz seco e cru. Eu fiz tudo o que todo mundo dizia. Eu não tinha como ver as horas. Se alguém em casa precisasse de mim, não tinha nem o telefone de onde eu estava. Eu não tinha como escrever “eu te amo” a cada três horas.
O dia seguinte foi pior. Eu não pude dar bom dia e alegrar o dia dos meus amigos. Eu não sabia como estavam minhas melhores amigas. Eu não tinha os recados em tempo real do meu trabalho... Os minutos demoravam a passar, com seu avanço preguiçoso. O tempo que se impunha tinha uma coisa de cada vez, ao invés de cinco ao mesmo tempo. O tempo que se impunha. O tempo que me obrigava, me prendia ao aqui e agora.
Mandei o celular para consertar. E se nesse tempo minha amiga precisasse de uma palavra, de um abraço, ainda que virtual, de um consolo? E se o mocinho do conserto acessasse as minhas mensagens, minhas fotos, minha vida? E se copiasse as senhas e telefones dos meus contatos? Que loucura! Um medo de ter a vida assim, apartada.
Três ou quatro dias. A falta gritava menos. Ei, eu estou aqui. Não há tensão sobre esse silêncio. Nenhuma mensagem vai chegar nas próximas horas. Quando eu chegar em casa vou ligar o computador, e aquilo que pareceria extremamente urgente a três horas atrás... Simplesmente já passou.

Ontem. Celular finalmente consertado. Uma constatação: eu estava usando ele muito além do necessário.
E você? Como tem sido sua relação com o celular? 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Precisamos falar sobre fragilidade.

Como é difícil ser frágil em um mundo onde só esperam sua força,
Esses dias eu me abati. Caí em voo livre em uma tristeza profunda, abatida, derrotada. Estanquei. São os meses de desemprego, são as contas em atraso, são os filhos que são os filhos e fim, é o mundo cobrando algo que eu não posso dar.
E eu chorei. Minha única fuga desses dias doloridos são as lágrimas e o silêncio.
Certa vez, eu chamei uma amiga, e ela largou tudo o que fazia pra me encontrar em um bar e me ouvir chorar por algumas horas. Não sei se ela sabe o tamanho da gratidão que tenho por ela e por aquele dia. Eu nem precisei falar nada. Bastou abraça-la e chorar. Ela sempre diz que fica atenta ao meu chamado, pois sabe que quando chamo é coisa séria.
Isso me fez pensar como, na verdade, poucas pessoas entendem nossos chamados frágeis. Isso acontece, vezes por não mostrarmos nossa fragilidade, vezes porque as pessoas não estão habituadas a olhar as outras com amor e empatia.
E na verdade não tem receita.
A vida vai indo em frente com ou sem você acompanha-la. E ela dói.
Mas ser frágil ou estar frágil não carrega em si nenhum erro, nada pejorativo. É uma condição natural de ser. Somos completos e dentro da nossa infinitude de ser cabe a fragilidade, cabe o momento em que não queremos ser acalanto, mas queremos receber. 
Chega um momento em que um colo amigo é preciso, um abraço silencioso é sustentação e um sorriso em meio as lágrimas é o que move o mundo um pouco mais. Os meus pedidos são mudos. Não sei fazer diferente. Mas eu sei que há quem os ouve, quem me estende um abraço, um lenço, um ombro, uma xícara de café...
Sim, eu também tenho meus momentos assim. E quando for a sua vez não se acanhe, fragilidade também é marca indelével de um grande ser.

Beijos azuis.



Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto

COISAS DA CAIXA PRETA

O trabalho do professor em sala de aula é comparável a uma caixa preta de avião. Só quem está no voo sabe o que acontece.

O que me incomoda mesmo é perceber que as coisas mudam muito lentamente. Estudei em escola democrática pós 85. Isso é uma coisa.

Meus professores foram formados pela escola da ditadura e faziam largo uso de práticas transmissivas o ensino. Isso é outra coisa.

Minha formação docente foi durante dos debates LDB 9.394/96, dos Parâmetros Curriculares Nacionais, do ensino por competências e habilidades. Ok, eu vi a teoria.

Palavras ensinam, mas exemplos arrastam.

Isso quer dizer que o ensino transmissivo ainda é enfatizado na escola que trabalho e fico me policiado para não reproduzir as práticas que me formaram. Ou seja, não posso lembrar do que meus professores faziam, só das teorias estudadas.

Preciso ficar o tempo todo me policiando, revisando minhas práticas e estando disposta a refazer percursos.

Professores dessa geração precisam ter garra e disposição. As teorias estão aí, mas as novas práticas ainda precisam ter seu lugar no cotidiano escolar.

Cris Couto, 30/11/2016


Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora. 
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feira
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https://www.facebook.com/Cris-Couto-580259572135712/

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Sobre a ilusão de controle

Se eu estiver vigiando, ela não vai me trair.
Se eu me cuidar e for legal, ela vai me amar.
Se eu tiver caráter, ela não vai me acusar.
Se eu chegar na hora, ela não vai ter motivo pra reclamar.
Se eu emagrecer e me vestir como ele gosta, ele vai sentir desejo por mim.
Se eu ficar bem boazinha e nunca reclamar, ele não vai me bater.
Nós sempre achamos que está sob nosso controle. Mas o outro existe. O outro vê a si mesmo. O outro sente de acordo com quem ele é, baseia-se nas próprias experiências.
Algumas vezes sofri por achar que amava e não ser correspondida. E eu sempre achava que isso não aconteceria se eu fosse melhor (mais bonita, ou mais atrevida, ou mais alegre, etc, etc) E houve uma vez que eu pensava ter amado tudo o que podia, até me esvaziar. Aparentemente me transformei no ser que eu gostaria de ser, imaginei que morreria de amor se encontrasse alguém igual a mim mesma, que tivesse a coragem de entrega que eu tive, que pulasse sem garantia dizendo SIM mesmo que fosse para se esborrachar num abismo... Naquela ocasião, ao ter mais uma vez o meu “amor” não correspondido, (faço questão de escrever entre aspas, porque hoje penso que esses amores eram qualquer ilusão muito louca), eu pensei onde poderia ser melhor, o que poderia ter feito melhor, onde poderia ter resgatado.
Um dia, aliviada, eu me dei conta. Eu não poderia.
Aquilo não era sobre mim. Eu me colocava como coadjuvante em histórias alheias, e o enredo era todo do outro. Sempre. Não havia nada que eu pudesse ter feito melhor, ou diferente, ou mais sensatamente. A história ficou completa quando eu percebi que estava tudo terminado, e eu não poderia ter feito nada para ser diferente, porque nada nunca tinha estado na minha mão, nem sob meu controle.

Hoje penso que maturidade passa por assumir inteiramente o que nos pertence. Mas, ao mesmo tempo, entender o que é do outro e respeitar o protagonismo alheio. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Precisamos falar sobre a hora de dar tchau.

O ano de 2016 foi um ano muito tenso e muito intenso que ainda nem acabou. Um ano de saber verdades sobre as pessoas à nossa volta; um ano dolorido, de confrontos com tudo aquilo que ignoramos intencionalmente ou não. 
Eu me lembro que no ano passado comentei com uma amiga que 2016 seria o ano de cair as mascaras, de saber verdades. E eu estava certa!
Agora, avaliando com calma, vejo quanta gente ficou pelo caminho; gente que eu amava muito, considerava muito, gente que se aproximou e foi de novo e gente que "já foi tarde". 
Mas o ano difícil e dolorido limpou os sentimentos que não eram de verdade.
Por um tempo eu sofri. Me apego aos que amo verdadeiramente, quero saber, ajudar, estar junto (e isso é algo que preciso melhorar em mim), então ver essas pessoas se distanciarem foi muito complicado. Por sorte, nada é mero acaso e os que ficaram valem a pena.
O recado de hoje é sobre aprender deixar ir quem não quer ficar e consequentemente não soma mais em nossas vidas. Declarações de amor e amizade podem ser apenas palavras vazias, produtos de corações que não sabem ser recíprocos. 
Portanto, aprenda a desapegar-se.
Sempre haverá a hora de "dar tchau" e é preciso ter bons olhos quando a vida responde à oração "livrai-nos do mal, amém".

Beijos azuis.


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Quando não nos cabe!

Uma hora as coisas mudam.
Tudo muda de lugar o tempo todo, mas não percebemos a todo tempo. Então chega um momento que os acontecimentos externos te obrigam a mudar também, de atitude, de casa, de emprego e tantas outras mudanças...
Uma hora aquela roupa que tanto gostamos não serve mais e mesmo com a sensação tão recente de conforto que ela traz, ela não serve mais, não cabe. Não foi de repente, foi dia a dia, você cresceu e nem percebeu e a roupa não te serve mais. Mesmo assim a mantemos no guarda roupa, quem sabe ela volte a servir uma dia...
A verdade é que não voltará a servir nunca mais, você cresceu, precisa de outras que te sirvam melhor, que combinem com seu momento, que realizem um encontro com você e se insistir em ficar com o que não serve o espaço estará preenchido por algo que no fundo não lhe pertence mais, mas que fez questão de ficar preso a isso.
Então, aquilo que parecia tão confortável começa a se tornar um peso, desnecessário, incômodo, que não será mais utilizado, que trará boas lembranças, mas que naquele momento nem é possível recordar. A tendência é querer se livrar o quanto antes...
O problema em ter algo que não serve mais é o peso que traz, já que leveza é uma escolha. É preciso entender por dentro o que cabe ainda e o que não cabe mais, o que cabe, mas não queremos também, porque não querer é um motivo muito válido.
Não querer nem sempre é rejeição, muitas vezes é entender que não nos cabe.

Por Renata

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto

Fuga musical

Mandar para alguém uma letra de música ou uma parte comum da letra é bem comum. No geral, fazemos isso para dizer a alguém aquilo que não conseguimos dizer com nossas palavras. Um escudo: usar a palavra do outro em sua beleza, poeticidade e autoridade. Se a comunicação falhar, é por que não era bem aquele trecho da música, ou porque o refrão tinha duplo sentido. Garantias de face preservada.

As novas tecnologias já nos protegem do contato face a face. A música vai por mensagem, quando não vai apenas o link pela mensagem. Quantas vezes leio a letra ou sigo o link e fico polindo minha bola de cristal para adivinhar se devo considerar a letra inteira da música como mensagem. Será que é só um trecho? Se eu focar na estrofe errado isso poderá ser a paz ou a guerra. São tantos subentendidos que cercam mensagens de amor e vida que fogem numa pretensa e nublada comunicação.

Esquiva do olho no olho. As pessoas evitam sustentar na própria face o seu dizer. Não tenho olhos para dizer que amo? Não tenho boca para dizer que errei? Essa é uma maneira bastante poética de nos poupar de sentir, viver e responder frente ao outro pelos gestos e desejos que motivam nossas escolhas na vida.

Cris Couto, 21/11/2016

Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora. 
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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ainda na onda do "Sem querer"

Com certeza você já ouviu alguém dizer: "Não sou grosso, só trato as pessoas do jeito que me tratam". Ou então: "Minha educação depende da sua".
Sempre que ouço esse tipo de colocação, tenho vontade de perguntar: "E você, quem é?"
Porque se só reagimos ao que o mundo nos traz, estamos ao sabor das ondas. É como se não tivéssemos vontade, nem decisão alguma. Então, se eu não decido meus próprios caminhos, o que quer me aconteça é pura obra do acaso?
Conheci uma moça que, quando criança, era obrigada a comer chuchu. Conta ela que vez após vez, ela dizia para a mãe que não gostava de chuchu. Um dia a mãe perdeu a paciência e perguntou: "Você sabe que vai ter que comer, por quê sempre tem que dizer que não gosta?" Criança ainda ela já foi capaz de dizer: "Porque se eu sou obrigada a comer, pelo menos tenho o direito de continuar dizendo que não gosto".
A gente esquece esse pedaço. A gente acaba se acostumando, e de repente até pensa que gosta de determinadas coisas, se não aprende e não permite a própria voz.
É preciso que tenhamos voz, e não renunciemos a ela. Pra não se ferrar "sem querer".
A gente pode tomar qualquer decisão na vida. Mas que seja querendo. E eu estava aqui pensando que minhas amigas mais próximas tem isso em comum: elas choram, sofrem, gargalham, vivem... tudo QUERENDO. Sabe aquela história de "descubra quem você é e seja de propósito?' Bem isso.
A decisão não é do outro. É nossa. Que nós possamos ser quem queremos. Mas sobretudo que aprendamos a querer, profundamente, quem nós somos. Porque valemos a pena.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Precisamos falar sobre o "foi sem querer".

Há dias venho incomodada com essa coisa de dizer sem querer, de que eu critico você, mas faço igual, mas foi sem querer. Temos hábitos tão fortes, tão enraizados que nem notamos quando cometemos o erro que criticamos no outro.
Pode ser que seja, apenas, meu momento de silenciar. Mas ando incomodada!
Ora, sou boa com labia, e vejo as pessoas usando toda a sua labia para convencer as outras (a mim também) que não é bem aquilo, que não foi intencional.
Deixa eu tentar me fazer mais clara, sabe quando você vai lá na amiga e diz algo que sabe que vai afetá-la de algum modo? Você pode até dizer que "não tinha intenção", mas se você sabia que aquele era um ponto sensível, como é que foi tão sem querer assim?
Quando a gente diz algo e alguém se sente incomodado com aquilo, é habito dizer "se a carapuça serviu, vista",  então, como poderia mesmo ser 'sem querer' se não faz a menor diferença se quem esta se sentindo tocado pelo que foi dito é alguém que não tem nada a ver com o fato?
Entende que essa coisa de fazer ou dizer algo de forma inconsciente, pode não ser tão inconsciente assim?
Então, caros amigos, acho que esta na hora de fazer uma analise profunda sobre si mesmo, e observar o que não é tão inconsciente afinal e mudar a forma das coisas.

Beijos azuis


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Sabe aquele palestrante brilhante?

Eu prometi aquecer suas sextas e aqui estou. É preciso espairecer, reciclar-se e, acreditem, eu sou humana e, as vezes, não dou conta mesmo.

Mas vamos lá, eu queria conversar com você sobre um fato curioso que me ocorreu.
Estava eu, vendo um vídeo sobre racismo institucional e achei muito digno (se for do seu interesse dê uma olhada aqui.); e lembrei de uma conversa que tive essa semana, a qual o assunto era sobre determinada palestras que andei participando esses dias.

E conversa vai conversa vem, e a pessoa me pergunta sabe o nome 'daquele Indiano'? E eu fiquei questionando, "mas que Indiano? Havia um Indiano, lá? Eu não lembro!"
Será que não prestei atenção, será que fui ao banheiro e foi tão rápido, assim, o tema tratado?
(Juro que fui rápido, não fui para aquele chamado demorado da natureza! rsrs)
Enfim a conversa continua, e a pessoa diz "então, ele falou sobre  aquele tema e mostrou tal coisa."
Foi então que eu lembrei de quem se tratava e sim era um 'Indiano', ele tem características de pessoas Indianas.
Você deve estar se perguntando  "Tá e daí? Qual era o assunto afinal? Era o Indiano de ´The Big Bang Theory?  Não. Só pode ser aquele do filme Quem quer ser um milionário"; ou sei lá que série ou filme, que tenham Indianos, vocês assistem . E, acreditem, eu lembro destes por que enfatiza - se muito sobre a origem destes personagens no seriado e filme.

O que eu quero dizer é que a nossa sociedade pode dizer - se não racista, não preconceituosa; mas se, em uma palestra interessantíssima, a pessoa que gostou tanto não lembra o nome do ilustre palestrante, porém sabe dizer que ele é Indiano (E, não me lembro de ele ter mencionado onde nasceu), é grave!
Sei que você vai me chamar de exagerada, mas aqueça sua mente com essa reflexão:
(Me orgulhei de não ter reparado nisso pela primeira vez, eu acho.)
Eu respondi que não sabia o nome, 'mas deem um desconto' sou surda, posso ter perdido essa parte ou, maravilhada com tanta coisa fascinante dita, guardei o que iria me servir e fiquei grata por ouvir o resto. E se fosse um Negr@? Talvez a pessoa ficaria receosa de dizer a palavra Negr@ e falaria até a cor das roupas intimas, mas não esta palavra. Às Vezes é necessário escrever Negr@ com 'N' maiúsculo, como quando se escreve Deus para as pessoas saberem que estamos falando de uma divindade e que não se usa esse nome em vão. É preciso esclarecer que se a fala é sobre a etnia, não é pejorativo.
E quando é um(a) branc@?
Procura -se características peculiares da pessoa "aquelx ruiv@, aquelx de nariz grande, aquelx que falou ´tamo junto´ aquele Gordo, aquele que parece Gay.  Quando se trata de gay, o "parece"  é meio irônico e meio torcendo pra estar errado.
Mas a porra de um nome, função, equipe que trabalha, empresa. Isso não sabemos dizer!
E eu disse SABEMOS, porquê sim, eu cometo essa gafe e estou refletindo sobre isso.
E, por favor, desculpem me o palavrão, mas já comecei dizendo que sim, eu sou ´umana´E, caso não tenha entendido errei de propósito, apenas na grafia, na vida é sem querer ou por falta de refletir!

Então vamos à reflexão: Se você pode dizer indiano, japonês, alemão; você pode dizer NEGR@.
Não é pejorativo. É parte da identidade étnica!

_Keila Almeida_





terça-feira, 15 de novembro de 2016

Trecho do filme: As horas

Virginia sentada na estação de trem, ele chega correndo.
Virginia: Sr. Wolf, que surpresa agradável.
Leonard: Talvez possa me dizer exatamente aonde pensa que vai.
Virgínia: O que eu fiz?
Leonard: Fui te procurar. Não te achei.
Virginia: Você estava no jardim. Não quis incomodar.
Leonard: Me incomoda quando você desaparece.
Virginia: Eu não desapareci! Fui caminhar.
Leonard: Caminhar? É só isso, uma caminhada? (Virgínia suspira cansada). Temos que voltar pra casa. Nelly está fazendo o jantar. Ela já teve um dia difícil. É nossa obrigação comer a comida da Nelly.
Virginia: Não existe tal obrigação. Não existe NENHUMA obrigação!
Leonard: Você tem obrigação com sua lucidez.
Virginia: Não agüento mais essa prisão! Não agüento mais essa opressão!
Leonard: (Repreendendo) Virgínia!
Virgínia: Sou cuidada por médicos em todo lugar! Sou cuidada por médicos que me informam os meus próprios interesses.
Leonard: Eles sabem dos seus interesses.
Virgínia: Não sabem! Eles não podem decidir o que me interessa.
Leonard: Virgínia, imagino que seja difícil pra uma mulher do seu...
Virgínia (interrompendo): Do quê? Do meu o quê, exatamente?
Leonard: Talento perceber que talvez não seja a melhor pessoa pra julgar sua própria condição.
Virgínia: Então quem é a melhor pessoa?
Leonard: (Gritando) Você tem um histórico! (Pausa) Você tem um histórico de reclusão. Te trouxemos pra cá pelo seu histórico de angústia, mau humor, desmaios, por ouvir vozes... Te trouxemos aqui pra te salvar do mal que faz a si mesma. (Pausa) Você tentou se matar duas vezes! Eu vivo diariamente sob essa ameaça. Eu montei a gráfica, nós montamos a gráfica não só pelo trabalho, não totalmente pelo trabalho, mas para que você tivesse um meio seguro de concentração e cura.
Virginia: Como bordado?
Leonard: (Gritando) Foi feito pra você! Foi feito para sua melhoria! Foi feito do nosso amor! (Pausa) Se não te conhecesse melhor, acharia ingratidão sua.
Virgínia: Eu sou ingrata? Está me chamando de ingrata? Minha vida foi roubada de mim. Vivo numa cidade que não desejoviver. Vivo uma vida que não desejo viver. Como isso foi acontecer? (Senta-se) Está na hora de voltar pra Londres. Sinto falta de Londres. Sinto falta da vida de Londres.
 Leonard: Essa não é você falando, Virginia. Esse é um sintoma da sua doença.
Virgínia: Sou eu.
Leonard: Não é você.
Virgínia: É a minha voz.
Leonard: Não é sua voz.
Virgínia: É minha e só minha.
Leonard: É a voz que você escuta.
Virgínia: (Gritando) Não é, é a minha. Estou morrendo, virando pedra nessa cidade.
Leonard: Se estivesse em condições de pensar, Virginia... lembraria que foi Londres que te deixou deprimida.
Virgínia: Se estivesse em condições de pensar? Se estivesse em condições de pensar?
Leonard: Te trouxemos pra cá para te trazer paz.
Virgínia:  Se estivesse em condições de pensar, eu te diria que eu luto sozinha e no escuro. No escuro profundo. E só eu sei, só eu posso entender minha própria condição. (PAUSA) Eu gostaria, para o seu próprio bem, que eu pudesse ser feliz nesse marasmo. Mas se for pra escolher entre esse lugar e a morte, eu escolho morrer.
Leonard: (Pensando) Muito bem. Londres então. Voltamos pra Londres.
Silêncio e os dois se olham.
Leonard: Está com fome? Eu estou com fome.
Virgínia: Vamos. (Levantam e vão caminhando até a saída) Não se pode encontrar  paz evitando a vida.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Tudo que assombra


De todas as vezes que ouvi falar em fantasmas, a maioria delas se referiam a espiritos ou almas penadas. Mas, ao meu ver existem outros tipos de fantasmas...
Quando crianças o fantasmas sempre apareciam no escuro, na verdade o medo do escuro acontece por não poder ver nada além dele, perder a dimensão do espaço ao redor e a visão do que nos parece palpável... Já tive medo do escuro, mas o meu maior fantasma naquela época estava por perto durante o dia...
Então vêm a adolescência, que não deixa de ser um fantasma, mas que não aparece apenas no escuro. Esse vive anos a fio, mudando tudo e trazendo uma legião deles. Transforma, faz chorar e traz um fantasma específico que fala no ouvido incansávelmente: você é bem "grandinho" para sentir medo! 
Chego a acreditar que esse fantasma é o mais medroso de todos e que fala para tentar se autoarfirmar como corajoso e assim, se enganar anos e anos...
Nesse período os fantasmas têm bastante poder pelo simples fato do medo de rejeição, então muitas vezes acontece a prática de tantas coisas para se adequar ao grupo. Se a rejeição vêm desde a infância isso agrava o medo na adolescência...Então, a vida adulta chega e ao contrário do que muitos acreditam, os fantasmas permanecem lá, as vezes com o poder de voz menor, outros, com tanto poder que são capazes de enlouquecer, de levar ao suicídio ou uma vida triste e sem sentido...
Os fantasmas da vida adulta são mais diretos e trazem muito de toda vida já vivida até ali...Eles podem vir no término de uma relação, no barulho da chuva caindo na roupa lá fora. Podem vir simplesmente por ter a certeza de que agora não há a cama dos pais para acalmar o medo. Mas, não havia antes também, não será diferente. Apenas!...Podem vir de tudo que poderia ter ser e não foi
E falar sobre medo, ameniza-o, quebra os tabus e faz perceber de que é tão comum, que não há solidão no sentir, mas pode existir solidão no assumir. Por que assumir o medo não é ser covarde. É preciso reconhecer os motivos que causam o medo, assim e, somente assim, é possível acolher esse medo, cuidar, procurar ajuda para tratá-lo...é preciso coragem para assumir que há medo e que vez em quando os fantasmas saem dos calabouços do castelo de nossa mente e  fazem muito bem o seu papel.


Por: Renata

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Falando sobre vida adulta

Quando somos pequenos, todas as nossas ações tem a ver com os nossos pais. Se minha mãe não deixa eu sair de casa, eu não saio. Eu me lembro que, na minha infância, o terreno onde morávamos nem tinha portão. Uma menina da vizinhança veio me chamar pra brincar lá fora. Eu não queria ir. Então respondi: “a minha mãe não deixa”. A menina insistiu, eu repeti que minha mãe não deixava. Ela perguntou onde estava a minha mãe. Eu respondi que dentro de casa. Ela: “então vamos, sua mãe não tá vendo”. Eu, muito séria, respondi: “minha mãe não tá vendo, mas Deus tá”.
Faz parte da infância a sensação de segurança por estarmos sendo direcionados. Se minha mãe deixa, eu estou devidamente autorizada. Caso contrário, não faço. Na adolescência, preferia insistir até ela dizer que deixa. E eu não sabia na época, mas era minha forma de me sentir segura com as decisões que eu ainda não dava conta completamente de tomar.
Minha mãe morreu. Meu pai morreu. Estou por mim.
E agora? O que é que eu “deixo?” O que permito a mim? A maior parte das pessoas que eu conheço nunca toma decisões. Ou as evita o máximo que dá. Não larga o emprego que não gosta, porque tem muitas contas pra pagar. Não tem escolha. Não larga a pessoa que já não ama porque tem uma história de longa data, e/ou filhos que supostamente dependem dessa relação. Não tem escolha. Não faz o que realmente quer porque não tem dinheiro. Ou tempo. Não tem escolha. 
É confortável não ter escolha. Quem não tem escolha, não é responsável. Vive ao sabor das fatalidades que lhe acontecem.
Acho que a lição mais importante do mundo adulto é essa: A gente tem escolha. Sempre. Perceber, identificar as escolhas nos permite o protagonismo. Jesus já dizia: “Ninguém tira a minha vida. EU DOU”.

Sair da voz passiva. Entrar na voz ativa. Assumir a decisão. Aprender a dizer NÃO. Posicionar-se. Coisa de quem tem coragem. Coisa de quem confia em si mesmo pra bancar o preço. Coisa de quem tem brilho nos olhos. Gente preciosa os adultos que deram conta de crescer. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Precisamos falar sobre lições da vida.


Nesse último final de semana minha mãe esteve internada para uma cirurgia (por sua vez muito bem feita e com sucesso total). Eu fui sua acompanhante no hospital nos dois dias em que esteve lá.
A cirurgia foi na sexta de manhã e na sexta a tarde entrei de mala e cuia para ficar com ela o tempo que fosse necessário. No quarto compartilhado por 4 pessoas, apenas minha mãe tinha acompanhante por ter mais de 60 anos.
Eu, eterna observadora da vida, tive naqueles dois dias grandes lições que vou levar para sempre. 
No primeiro leito havia uma senhora que tinha umas feridas nos pés que a impediam de andar normalmente e que lhe doíam absurdamente.
No outro leito havia uma moça que tinha operado vesícula, era animada e independente, e mesmo sentido dor não perdia o bom humor.
No terceiro leito havia outra moça que tivera uma trombose, parecia animada e simpática num primeiro momento, mas depois ficou calada e aborrecida,
Lições:
1 - No dia da internação, único dia em que minha mãe ficaria sozinha, umas das enfermeiras e uma das estagiarias, fizeram o melhor acolhimento possível. Simpáticas, transbordando cortesia e amor pelo que fazem, deixaram minha mãe confiante e a vontade, assim como a todos da família. Fui pra casa, com a certeza de que fazer o que se ama é a maior recompensa de todas!
2 - Quando aprendemos a nos virar, isso fica automático. A moça que operou a vesícula, mesmo com dor absurda, não deixava de conversar alegremente e a fazer bons comentários de tudo o que lhe acontecia, não pedia nada a ninguém e por vezes precisava que fosse lembrada que estava operada. Trocou informação, receitas e email. saiu no dia seguinte a sua cirurgia com total bem estar. A Alegria é contagiante e curativa!
3 - Entender o limite, a saudade do outro é importante, quando a moça falante emudeceu todos queriam saber o que ela tinha. Ao ajuda-la em determinado momento, eu lhe disse que a vida nos dá momentos para pensar, mesmo quando não queremos. E isso não é bom nem ruim, estar chateada é um direito que nos assiste. Ela com os olhos marejados me disse "obrigada por me ver". Empatia é receita de boa vida!
E agora a lição que foi dada diretamente a mim.
A senhora do pés feridos teve imensa resistência a mim, me olhava torto e, não raro, fazia cara de nojo. Eu, acostumada a esse olhar, nada disse. Bem sei que naquela idade, junto com sua vertente religiosa, somado a minha aparência, eu lhe causariam repulsa. 
Eu mulher gorda, tatuada, cabelo curto, lateral raspada mão de 3 filhos, sem marido... definitivamente não lhe proporcionava visão agradável.
Minha mãe ficou aborrecida quando notou, era sua cria, natural que ela se zangue. Mas lhe pedi que não dissesse nada, que desconsiderasse. Ora, se estou acostumada a esse olhar reprovador e a essa régua que me mede desde dentro da minha casa, o que representa o olhar externo?? Nada!!!
Não me abstive de ajudar a senhora. 
Quando precisava ir ao banheiro, quando queria água, quando chamava as enfermeiras... na sexta ela sequer respondeu as minhas ofertas de ajuda. No sábado por um tempo, recusava todas. E ela era a mais necessitada, reclamava muito de dor e de fato não me lembro dela ter tido um momento de gratidão, exceto quando recebeu a visita de uma rapaz a quem ela demonstrou amar muito.
No sábado à noite, sua dor era imensa, ela só gemia e pedia auxilio.Fui diversas vezes chamar os enfermeiros, a amparei em todos os momentos que precisou levantar, ou o que quer que necessitasse fazer.
Nesse ponto da leitura, você pode se perguntar o motivo de eu ajudar alguém que nitidamente me desprezava. Alguns vão achar que sou idiota ( talvez tenham razão...), outros que eu quero aparecer e por isso estou contando... concluam por si.
No domingo de manhã, ela sentia menos dor, me solicitou quando precisou, me ofereceu sua salada do almoço, e quando fui embora e me despedi dela, ela me abraçou, me beijou e me disse o quão grata ficara com minha disponibilidade, e que ela esperava que mesmo sem a boa vontade alheia (creio que falava de si) eu nunca deixasse de ser como era.
E foi exatamente por isso, caro leitor, que eu insisti em ajuda-la!
Se passo por essa vida e não faço nada pelo outro, não sou um ser humano. Se julgo as realidades que não conheço, faço exatamente aquilo que me fere todos os dia. E me torno igual em falta de humanidade. Se passo pela vida sem deixar um traço de amor, não preciso viver. Pois se sou oca, não faço diferença para o mundo.
E podemos ser mais que isso! Devemos ser mais que isso! 
Não são questões religiosas, mas sim morais, são questões humanas. 
Eu podia ser menos, mas escolhi ser mais.
Eu, mulher, gorda, periférica, tatuada, desempregada, decidi deixar amor e respeito por onde passo!
Esse é o meu traço, indelével, pelo mundo.

Beijos azuis.

Em tempo:
É preciso agradecer à toda a equipe de funcionários do Hospital do Ipiranga, saúde publica de melhor  qualidade! Que vocês resistam, que sobrevivam a esse momento de crise e golpe. Obrigada por existirem!
É preciso agradecer às minhas parceiras voluntárias linda de viver: Bia Donato, Dani Luiz, Leticia Dias, elas me mandaram mensagens de apoio, amor e preocupação sobre o bem estar de mamãe. Às vezes a gente quer saber que alguém se importa, e vocês foram minha grate surpresa desses dias, Obrigada!!
Às amigas queridas que me acompanham sempre e estavam ali, se eu precisasse, Keila, Thais, Renata, Regis e Andressa.
Sempre, à Rita Iabrudi, que não me deixou sozinha nem por um segundo, mesmo estando há muitos km de distância; não tenho palavras pra agradecer sua percepção da minha sensibilidade nesses dias, e por fazer as perguntas que eu tanto precisava responder.


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
Para ler mais,e ver por onde ha traços meus. clica AQUI.




terça-feira, 1 de novembro de 2016

Até onde vamos?

"Na primeira noite eles se aproximam.
E roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada
Na segunda, já nem se escondem.
Pisam nossas flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa.
Rouba-nos a luz
e conhecendo nosso medo...
Arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."
(No caminho com Maiakovski)

Educação pública. Saúde pública. Direitos Humanos. Dignidade e direito à vida, especialmente dos que não tem condições de pagar duplamente o que já pagam em seus impostos.
Tudo isso está em jogo hoje.
Vamos defender?
O que dá pra fazer?



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Precisamos falar sobre o valor da amizade verdadeira.

Hoje quero falar sobre amizade, sobre amizades reais, verdadeiras, sobre o valor que essas relações nos trazem, afinal os amigos são a família escolhida.
Quando olho para meu circulo de amigos fico com imenso orgulho das escolhas que fiz. As pessoas que estão no meu convívio, que fazem parte de minha vida, são realmente dotadas de amor e respeito ao próximo de uma forma que me emociona sempre que penso.
Eu tenho imensa dificuldade em desfazer amizades, elas me doem de verdade. Não consigo simplesmente bloquear uma pessoa, mesmo no facebook,  se for alguém que tem importância pra mim.Mas não deixo de perceber, dia a dia, que importância do outro é algo muito individual, e por isso, preciso agradecer, de novo, aos amigos que tenho.
Tenho uma amiga que sempre diz "a gente dá aquilo que tem", eu realmente acredito nisso. Se você tem amor, dará amor; se tem egoismo, será egoísta e não caberá em lugares de generosidade; se tem infelicidade não caberá nos lugares de alegria; se tem amargura, não caberá nos lugares de ternura. Porque sim, a gente dá aquilo que tem. Somos cercados de nossos pares e a vida acaba dando um jeito de tirar quem não soma.
Daí bem aqui, você leu tudo isso, fez uma rápida analise e pensou "eita lasqueira, me dei mal nas amizades"?! RELAXE, se você distribui o bom dos sentimentos, isso volta pra você. Mas se serve de conselho, desconfie de pessoas sozinhas que não tem amigos. Quando alguém é muito sozinho, sem amigos de longa datas, ou amigos próximos, olhe com cuidado; e conto isso como experiencia pessoal!
E aproveitando o ensejo deixo outro conselho: seja, você, o amigo que procura. Temos o péssimo hábito de jogar nos outros toda uma carga de expectativas que podem não ser atingidas, já que são nossas e de mais ninguém.
Muitas pessoas vão se lembrar de você somente quando precisarem. Isso é o comum do comum, mas você pode se lembrar dos amigos simplesmente, ou quando vir uma foto no facebook, ou quando sonhar com eles, ou quando passar em um lugar qualquer,ou assistir um filme,..
Muitas pessoas vão tentar minar você, pelo fato de não conseguirem ser como você; não se abale e seja, você, a certeza do outro ser, deixe os outros serem felizes se não puder ser também, deixe-os serem inteligentes se não tiver o mesmo intelecto. Isso não faz de você idiota, apenas te dá pontos de analises diferentes.
Enfim, eu sei, ainda mais, do valor de um bom amigo, tanto ter como ser!
Hoje eu sei, ainda mais, da grandiosidade que é ter um amigo com quem contar, assim como para contar com você!
Amor maior que esse não há! Um bom amigo é pra toda vida!
Seja aquilo que busca no mundo!

Beijos azuis.

Meu muito obrigada aos amigos de verdade, aos que sempre estão, aos que os anos nunca afastam, aos que tem mãos estendidas para pedir apoio e para apoiar, aos que me acolheram muitas vezes, e que se deixaram acolher outras tantas, aos amigos de verdade, sinceros, que realmente valem a pena.
Em especial para Rita Iabrudi, Keila Almeida, Renata Gomes, Thais Stella, Regis Pinheiro, Andressa Barbosa, João Carlos Alcântara, Patricia Santiago, Anselmo Soares,


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A própria sombra


Uma frase popular de um livro antigo, escrita no encosto da frente no transporte público me fez refletir sobre o amor: "Sem amor, eu nada seria".
Isso me faz tanto sentido.
Muito que se diz sobre o amor é comparado ao que se pode doar à alguém, mas o amor não têm comparação e ainda não encontrei de fato um sinônimo.
Amor é tão pleno que nenhuma palavra o ressignifica, a menos que seja uma palavra que tenha origem dele mesmo, então se transforma em verbo.
Já ouvi tantas histórias de ações não muito boas com a tentativa de serem justificadas pelo amor, quando nem sempre era verdade.
Quando o mundo te quebra em pedacinhos só o amor é capaz de reerguer. Somente o próprio.
É ele quem muda a visão.
Não é possível ser bonito pra todos e nem pra si mesmo todos os dias. Mas o amor te olha pelo espelho e sabe exatamente o que mudar para se fazer melhor e encarar o mundo.
Ele também é capaz de fazer ver por meio de um ponto de luz refletido no espelho em meio a tanta escuridão, a própria sombra, mostrando que somos tão maiores que o próprio tamanho.
O amor é que faz acreditar no amanhã.
O amor protege, diz não, educa, dá limites, acorda cedo, deixa com fome para comer comida e não besteira, põe de castigo, traz o leite quentinho, protege do frio, dá banho de mangueira no calor, grita no quintal, deseja feliz natal logo após destruir seu mundo contando que papai Noel não existe.
Pode vir do ser humano ou do animal, seja de onde for, se não existir torna amargo, frio, difícil.
Por isso deve crescer de dentro, expandir. E o que vem de fora reabastece o depósito de amor que já existe.
Dessa forma evitamos o risco de nunca ter sentido ou de se frustrar se ele nunca acontecer. Por que não existe o nunca para aquilo que já aconteceu.
Por que assim, quando não for amor o que vier de fora, logo identifica e não se engana.
Por que assim quando estiver em pedaços terá um estoque suficiente que dá forças até se reconstruir e recomeçar.


Por: Renata

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Até na ciência

Estudando a evolução do pensamento científico do ponto de vista da Biologia: Partindo de Platão e seu "mundo das idéias", onde existia a forma perfeita e imutável de todas as coisas, chegando em Darwin e Mendel com a observação das mudanças entre espécies e a descoberta dos genes... temos no meio do caminho a noção de que tudo se move. O planeta se move, as pessoas se movem, as formas de vida se movem. Tudo está em constante movimento, nada mais é estático, na verdade nada nunca havia sido estático. 


Chega-se facilmente em Bauman e o pensamento sociológico: Nossa modernidade líquida, onde tudo continua se movendo, mas numa velocidade que não podemos mais acompanhar. Tudo move-se com tal velocidade que as formas se perdem, nossa realidade tem a solidez de uma fina camada de gelo sobre um lago, e nós, os inseguros patinadores amorfos, nos esparramando e experimentando novas formas de viver no mundo... E é bonito pensar que conseguimos, que nos reinventamos, nos resignificamos, corajosamente, porque temos a teimosia de querer fazer sentido...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Precisamos falar sobre o grande "atrapalhador" das nossas vidas.

Hoje eu estava a conversar como meu querido amigo Filipe Sena, pernambucano gente boa, divertido e quase descomplicado, escritor de mão cheia, criador do Cachorros de Bikini, blog com textos maravilhosos, meu personal music e por aí vai.
Com Filipe tenho conversas variadas, pitorescas e engraçadas. E hoje, no meio da diversidade de nossas falas, ele me solta que atrapalha um bocado a própria vida, no sentido de que: "precisa escrever e joga vídeo game", "lê notícias de pokemon", essas coisas, fora a quantidade de coisas que esquece...
Ora, ora, não é que me encontrei nisso aí??!
E, de fato, quem nunca?
A verdade é que uma parte, considerável, das pessoas faz o mesmo. Eu ando magistrada em procrastinação. E somos, mesmo, atrapalhadores de nossas vidas. Aqueles 5 minutos a mais, aquele "vejo isso já já", ou ainda "o prazo é amanhã a tarde, posso fazer ate meio dia..." são os exemplos mais clássicos das coisas que deixamos de fazer e, por isso, atrapalhamos nosso tempo, nossa vida, 
Alguns se conformam, fazer o que?!
Outros se desesperam, e agora??? e agora??? e agora??
Outros odeiam a si mesmos por um segundo, mas tem uma coisa diferente no facebook, até se odiar tem que ser depois.
O tempo, nosso único recurso irrecuperável, se esgota, se esvai e as coisas vão ficando pelo caminho, A gente vai se virando aqui e acolá e sempre deixando algo pra trás, perdendo um outro bom momento, uma boa chance. Não; Não se prometa que a partir de hoje será diferente, não será! É preciso criar o hábito. 
Hábitos são criados, moldados, insistidos. Antes desse processo são apenas ideias que poderiam ser executadas, O poder do hábito é a diferença entre um tempo bem gasto e um que meramente passou.
E a vida segue, atrapalhada ou não.


Beijos azuis..


Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

De vez em quando as supresas agradáveis da vida acontecem e nos enchem de alegria e esperança.

A surpresa dessa semana foi um artesanato feito por uma pessoa querida que conheci por meio de sua doença.

Quando recebi o presente fiquei bem feliz pelo carinho e respeito, depois ao retornar pra casa fiquei ainda mais feliz imaginando o tempo que essa pessoa parou a vida dela e se dedicou em fazer um objetivo tão delicado e com minhas características, me dando o sinal de que sim, ela me olha, ela me vê.

Gosto dessa coisa de olhar nos olhos, conversar, ouvir, procurar entender.
Acredito que é a partir da história que conheço que saberei auxiliar alguém pra precisa de ajuda. O grito de socorro as vezes vêm de uma conversa quase inaudível, no silêncio, no olhar, no gesto, na raiva ou no grito de revolta.

Alguns pedidos de socorro não ouvidos podem se manifestar em doenças, em dor no corpo. A dor depois de ser tão grande na alma e não caber mais, vem para o corpo de forma que pode ser tratada mas talvez nunca mais curada.

Então acredito também no amor que também se manifesta de muitas formas, em uma conversa quase inaudível, no silêncio, no toque, no olhar, no gesto.

Uma vez me disseram que eu demonstro meu amor no toque. Sou mesmo sinestesica, mas talvez quem me disse isso é que receba o amor dessa forma. Já me aproximei de pessoas que recebem o amor na conversa, na atenção dedicada e assim vou conhecendo um mundo de cada um que queira receber ou dar o seu amor.

O meu amor não cura, não protege do mal que o mundo oferece, não devolve a saúde ou tempo perdido. Mesmo assim acredito no amor recebido e dispensado.

Um pouco de dedicação ao outro faz bem.  Fez bem pra mim. Fará bem à outros.
Faz bem até para o corpo e a frase "Qualquer amor é um pouquinho de saúde" me faz sentido.

Por: Renata



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

ACORDA NEGA! por Cris Couto

PRIMAVERA, OUTRA VEZ

 O silêncio foi tempo de reflexão. Na ausência com o mundo pude me escutar. Necessário.
“Espero que você esteja feliz” foi uma das primeiras mensagens que recebi. O bom é que, bem antes dela, aprendi que felicidade é uma questão de ser.
 Faz toda a diferença. “Estar feliz” é transitório e está no outro. “Ser feliz” não tem prazo e está em mim. Sim, eu sou feliz e espero que você também o seja.
“Toda felicidade do mundo!!?” Rsrs. Até eu desejaria isso a alguém meio em dúvida. Muito para se mensurar, não é mesmo? Momentos felizes tenho e terei, amiga. Obrigada.
            Comemorar? Sim, estou. Conseguir escrever o que sinto é motivo de comemoração.
Sim, amiga, estou bem acolhida e com pessoas que me amam. Verdade, esse é o grande presente! Também tenho saudades.


Cris Couto, 19/10/1976

Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora.
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feiras
Gostou? Leia outros textos meus em:
https://www.facebook.com/criscouto1010/

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Esteve aqui. Já foi.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Porque a vida é feita de escolhas.
Agir corretamente é uma escolha. Não abandonar quem depende de você é apenas questão de caráter. A gente bate no peito e segue firme. Me pergunto quantas vezes meus pais se arrebentaram para que tivéssemos uma vida digna. Sempre penso que espero de mim mesma, no mínimo, o que meus pais tiveram condições de me oferecer.
Vida. Essa coisa que vibra, pulsa, que de repente do nada fica ameaçadora a ponto da gente desejar profundamente deitar num parque e olhar as nuvens passando, sem pensar em mais nada. E deixar a vida passar, por algumas horas ou dias, sem nenhum controle. Sem pensar. Essa vontade de desligar. Essa vontade de querer que a vida ande mais devagar, ter tempo para a infinitude.
“Agora está tão longe, vê... a linha do horizonte me distrai... Sei que faço isso pra esquecer... eu deixo a onda me acertar... e o vento vai levando tudo embora...

Esses tempos de calor nos abraçam e nos sufocam a um só tempo. Não existe o frio a doer na alma. Mas. Há sempre um mas. Um contraponto, uma verdade que se faz troca. Não se pode ter tudo. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Precisamos falar sobre a hora de calar

Que atire a primeira pedra quem nunca falou demais e nunca pensou que deveria não ter falado aquilo.
É que também há a hora de calar. A gente é que não percebe muito.
Tenho uma amiga que evita quase todas as discussões em seu cotidiano, e ela não deixa de opinar. Apenas deixa de insistir quando a outra parte da conversa fica mais afobada. Quando observei isso, estranhei; acostumada a debater, fui pega de surpresa com essa atitude.
Curioso que desde então ao olhar em volta venho observando a eficacia de silenciar. Venho lidando, sem muito sucesso, com a coisa de dizer "A" e ser entendida como "Z", e vive e versa. Venho me aborrecendo com ditos que não eram intencionais, e eu sempre acho que sempre dizemos aquilo que queremos. Essa coisa de "não quis dizer..." é meio confuso para mim,
No entanto, por vezes, a recepção da mensagem sai pelo avesso e a gente entende mal a beça.
Ok, sabemos de tudo isso. Mas, como saber a hora de calar?
Esses dias eu estava falando para uma outra amiga minha opinião sobre determinada coisa, que era completamente diferente da dela, ela por sua vez não é muito boa em ouvir, resultado... mal estar e descontentamento.
Por esse episódio eu decidi que a hora de parar é quando começa a virar debate, se eu não quiser debater. Decidi que a hora de calar é quando eu não quiser falar. Decidi que a hora de calar é quando eu simplesmente decidir.
Tem um ditado que diz que "é melhor ser feliz que ter razão"; não sei se concordo, apenas decidi a hora de me calar.
E você, sabe?

Beijos azuis




Escrito por Mariah Alcântara
Publicado originalmente no Blog Flor do dia: Coletivo do Bonde
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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A culpa é minha?

A culpa é minha que não soube educar
A culpa é minha que não repreendeu
A culpa é minha por amar demais
A culpa é minha e quem paga sou eu

A culpa é minha por usar roupas cor de rosa
A culpa é minha por usar vestido
A culpa é minha por não me comportar
A culpa é minha por não ter morrido

A culpa é minha por não entender
A culpa é minha por sonhar demais
A culpa é minha por envelhecer
A culpa é minha é minha por não sermos iguais

A culpa é minha por não ter maldade
A culpa é minha por me calar
A culpa é minha ppr ter aquela idade
A culpa é minha por só ter sabido chorar

A culpa é minha por lutar por igualdade
A culpa é minha por ter parido
A culpa é minha por morar nessa cidade
Me roubaram, mas não é do bandido

A culpa é minha por andar naquela rua
A culpa é minha por não trancar a porta
A culpa é minha é minha por vestir burca
A culpa é sempre minha, ninguém se importa

A culpa é minha por não ter fechado as pernas
A culpa é minha não ter gritado
A culpa é minha por minhas sequelas
A culpa é minha por ter apanhado

A culpa é minha pelas curvas que carrego
A culpa é minha por ter a voz agradável
A culpa é minha pelo qie não enchergo
A culpa é minha por ter um corpo violável

A culpa é minha por que falo
A culpa é minha porque precisa ser de alguém
A culpa não é minha e as vezes eu calo
E por ter nascido mulher, culpa é de quem?






terça-feira, 11 de outubro de 2016

O momento existe

Só o momento existe.
Hoje estou olhando para todo mundo e tendo a sensação que são todos crianças. Estado de graça. Uma vez me disseram que amar é enxergar cada pessoa como Deus sonhou (antes de se transformarem no que acabaram se transformando depois). Faz sentido.  Um Deus onisciente não sonharia. Não faz sentido sonhar quando você já sabe tudo o que vai acontecer. Mas o Deus presente no meu coração sonha. Sonha com o dia em que o ser humano vai surpreendê-lo com seu livre arbítrio e também ensiná-lo a amar mais e melhor. Sim, o Deus do meu coração aprende a amar com sua criação, tal qual a gente vai aprendendo com os filhos os amores infinitos e incondicionais que nos permitimos sentir.
Hoje todo mundo que eu olhei tinha um brilho lindo nos olhos, especialmente quando sorria. Vontade que essas crianças nunca deixassem de sorrir... Por quê nós todos nos perdemos tanto em sofrimentos desnecessários?
Ontem tava tentando responder pra mim mesma e outros sobre quem somos, de onde viemos, para onde vamos... Eu tenho certeza que só estamos juntos nesse mundo pra aprender a amar melhor. Ou amar de verdade, sei lá. E a gente vai fazendo experimentações. Experimenta com mãe e pai, irmãos, amigos, homens e mulheres, depois experimenta com os filhos... Com cada um deles a gente vive uma forma diferente de amor e vai saboreando, e vai vendo o gosto que isso tem e os sentimentos que produzem na gente...
Nada na vida me faz mais feliz que gente. E pedagoga que vou, ver além do que mostram, entender o potencial que tem e puxar pra luz. Como pedagoga, sou meio parteira. De alguma forma vejo o que brilha por dentro dos machucados, das feridas, dos medos. Essencialmente aprender significa remover muros e deixar de ter medo. Pra poder ser livre. Eu sinto que vivo pra isso. Pra ajudar as pessoas a se trazerem verdadeiramente pra luz, parindo a si mesmas num trabalho de parto que é pura metamorfose.  Não antes de parir a mim mesma, com todas as noites escuras, os desesperos, os fantasmas, as saudades, os pavores... Porque experimentar tudo isso me ajuda a reconhecer isso nos demais, me ajuda a todo dia lembrar que o outro é feito da mesma essência que me habita...
Tá bonito esse caminho... Muito bonito. E eu, que tantas vezes quis me agarrar em perspectivas de futuro, agora estou inteira no hoje. Experimentando e vivenciando.

(Publicado originalmente em 2012)