Naquele dia eu acordei sozinha. Não tinha ninguém do meu
lado na cama. E imediatamente eu me lembrei de que eu te beijava todos os dias.
Antes. Eu fazia isso mesmo nos dias mais difíceis. Mas naquele dia tudo era
silêncio. E fiquei surpresa quando percebi que gostei. Gostei de não ter que
conversar. Gostei de não preparar nenhum café. A não ser que eu quisesse. Ao
invés de perguntar: “O que precisamos fazer hoje?” eu me perguntei “o que quero
fazer hoje”.
Meu querer. Há quanto tempo ele tinha deixado de importar?
Eu nem sabia mais.
O espaço do meu guarda-roupa. Você tinha levado tudo. E
pensei o que eu poderia colocar ali no seu lado. E podia ser o que eu quisesse.
De repente, o tempo, meu tempo tão escasso, era de novo meu.
O final de semana. Quantos amigos eu poderia encontrar a partir daquele
instante?
Lembrei das vezes em que eu quis viajar. Mas nos faltavam
recursos financeiros. Não era fácil manter nosso padrão de vida. Mas eu estando
sozinha, tudo mudava. Fui fazer teatro. Fui fazer terapia. De repente, os meus
recursos, internos e externos, pertenciam só a mim mesma. Eu me pertenci de
novo.
Me pertencer...
Me perguntei de onde vinha essa tendência a priorizar o
outro. Qual carência me fazia querer agradar a esse ponto, a ponto de me
ignorar, a ponto de não me permitir viver o que me fazia feliz.
Fiquei inebriada com todo o silêncio. E eu sorri pra vida.
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