COISAS DA CAIXA PRETA
O trabalho do professor em sala de aula é comparável a uma caixa preta de avião. Só quem está no voo sabe o que acontece.
O que me incomoda mesmo é perceber que as coisas mudam muito
lentamente. Estudei em escola democrática pós 85. Isso é uma coisa.
Meus professores foram formados pela escola da ditadura e
faziam largo uso de práticas transmissivas o ensino. Isso é outra coisa.
Minha formação docente foi durante dos debates LDB 9.394/96,
dos Parâmetros Curriculares Nacionais, do ensino por competências e
habilidades. Ok, eu vi a teoria.
Palavras ensinam, mas exemplos arrastam.
Isso quer dizer que o ensino transmissivo ainda é enfatizado
na escola que trabalho e fico me policiado para não reproduzir as práticas que
me formaram. Ou seja, não posso lembrar do que meus professores faziam, só das
teorias estudadas.
Preciso ficar o tempo todo me policiando, revisando minhas
práticas e estando disposta a refazer percursos.
Professores dessa geração precisam ter garra e disposição. As
teorias estão aí, mas as novas práticas ainda precisam ter seu lugar no cotidiano
escolar.
Cris
Couto, 30/11/2016
Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e
escritora.
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do
Bonde às quartas-feira
Gostou? Leia outros textos meus em:
https://www.facebook.com/Cris-Couto-580259572135712/
Como é difícil isso! Por um lado, temos uma geração de crianças que não dispõe de tempo quase nenhum dos alunos. Me chocou muito quando fui ouvir uma palestra e a palestrante perguntou quantos de nós passam cinco horas por dia convivendo com os filhos sem estar fazendo outra coisa. Nenhuma mão levantada. Não temos tempo. E então precisamos explicar para essas crianças que no mundo precisamos de limites, aquela coisa de "meu direito termina quando esbarra no direito do outro" não posso fazer tudo o que me dá na telha. Mas sem ser autoritário. Sigo buscando essa medida. Sei que às vezes fracasso. Porque quando acontecem coisas que para mim são inaceitáveis eu lanço mão sim do "eu sou sua professora e não admito desrespeito". Mas ainda tenho dúvidas se em algumas situações não é exatamente isso mesmo que se deve fazer. Tenho dificuldade em ver uma relação horizontal ali e ainda assim produzir conhecimento. Há que se ter protagonismo, mas há que se ter também disciplina, essa palavra tão ferozmente combatida. Mas é preciso achar a medida. Viver em sociedade pressupõe aprender a conviver. Pra aprender a conviver é necessário entender que alguns limites existem e são importantes. Penso nisso todo dia. Em como fazer.
ResponderExcluirÉ preciso muito coragem para dar aula.
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