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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

ACORDA, NEGA! por Cris Couto

Sabe aquela sensação de vazio?

Sinto um vazio enorme dentro de mim... Depois de pairar o dia e um rompante de gula, cá estou eu, agora, escrevendo. Esperança de que isso sirva de cobertura possível, pelo menos, por um breve momento.
When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons
Now I've got that feeling once again
I can't explain, you would not understand
This is not how I am
I have become comfortably numb
(Comfortably Numb – Pink Floyd)

Decidi pesquisar no Google o que isso significa. Sou dessas. Digito “sinto um vazio enorme dentro de mim” e clico na lupa. Aproximadamente 511.000 resultados. Já me sinto mais humana agora.
O Yahoo Answers foi top de lista. Não fui ver o que é que tinha lá. A opinião da galera tem seu valor, eu sei, mas aquelas... quando você acha que seu problema é sério, quer uma opinião especializada, até mesmo para não se confundir com o tanto de coisa que todo mundo diz!
Bom, os especialistas dizem que o vazio existe, sempre esteve lá. É que a gente o acoberta com alguma coisa. Mas toda cobertura é provisória e quando ela não satisfaz ou não se sustenta mais, o vazio aparece. Bem psicanalítico isso!
Também acho que seja por aí mesmo. Não faço tantas coisas assim que me oprimem. Na verdade, hoje tenho tempo livre e a chance de fazer mais coisas que gosto. Mas o vazio está bem aqui, comigo, agora, me endoidecendo de não-sei-lá-o-quê! Quanto mais tempo tenho para fazer o que gosto, menos coisas eu faço. Essa equação é sem jeito!
Ok, ok. Procurando encaminhamentos. Mais um clique.
Cuidado! A gente se horroriza com a sensação de vazio e logo queremos lançar mão de qualquer coisa para preenchê-la. Sim, o sentimento do vazio pode ser bem desesperador e, geralmente, fazemos escolhas péssimas e exageradas na busca de uma satisfação imediata. Amores insuficientes, gula insana e embriaguez são alguns preenchimentos provisórios e precisamos pesar bem a relação custo-benefício antes de lançar mão deles.  Algumas escolhas trazem sequelas profundas, quando não alargam ainda mais a sensação de vazio. Nessas horas, dizer “não” é estado de equilíbrio.
Bom, para quem ainda não encontrou uma coisa bacana para preencher o seu vazio, mesmo que de maneira momentânea: coragem, não desista! Sim, é autorizado ter lugar para você mesmo em sua vida. Tem uma turma que aposta que esse horror que temos frente à sensação de vazio possa ser convertido em ato criativo. Seria essa a saída dos artistas e das pessoas que se destacam na humanidade ou em sua comunidade por seus feitos e ideais. Hoje, reconhecemos os grandes clássicos da música, os mais inspirados poemas e as mais belas pinturas, mas tem mais, muito mais! Quem fez aquelas maravilhosas luzes roxas no cabelo da sexagenária ou o grafite surreal no muro do vizinho? E olha que muita gente ainda não conhece o delicioso bolo de fubá com goiaba da minha tia.
Se alguém tiver botando reparo aqui, avise quando eu chegar lá!

Cris Couto, 10/08/2016

Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora.
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feiras
Gostou? Leia outros textos meus em:
https://www.facebook.com/criscouto1010/

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