Tem gente que não consegue estar diante do silêncio. Acorda
e já vai ligando TV, colocando música, ouvindo as notícias do dia.
Eu não. Para mim, acordar com muito barulho é violento. Eu
gosto do silêncio.
A gente sai na rua e todo mundo está falando, expressando
opiniões, contando histórias... Eu aprendi na escola que a fala organiza o
pensamento, e o que faz de nós seres culturais é também a capacidade da
linguagem, que produz significados concretos e simbólicos para tudo o que há.
Mas... Sabe? As vezes cansa.
Rubem Alves dizia que existem muitos cursos de Oratória, mas
ninguém parece disposto a fazer curso de escutatória. E eu concordo, porque
acho que estamos cada vez mais desaprendendo a arte de ouvir, escutar,
entender. É tudo gritaria. Existe uma urgência geral, as pessoas precisam se
expressar, todas elas, existe uma disputa pela palavra, pelos nomes, pois o
nome de alguma coisa pode definir o amor ou o ódio das pessoas a respeito do
que quer que seja. E nomes novos vão sendo criados, e ai de nós se usarmos os
nomes errados. E é importante que seja assim, pois a polifonia social é um
elemento importante e redutor da desigualdade. Eu consigo perceber que sim.
Mas é insano. Eu me lembro no trabalho de parto do meu
filho, onde eu estava cercada de pessoas falando demais, e todas as mesmo
tempo, e algumas gritavam comigo... E eu só queria um minuto de silêncio, para
poder me conectar. Por vezes, sinto que os muitos sons me roubam de mim, não me
deixam ser, ditam os pensamentos que terei antes de eu ter decidido quais
serão. Como se pode escutar tantos sons, e falas e músicas, e ruídos e conseguir
pensar ao mesmo tempo? Parece uma tarefa fácil para as outras pessoas, mas
missão quase impossível para mim. A gente se liga no automático porque não há
tempo. As vozes e demandas não param.
Tempo. Tempo de silêncio. Tempo de estar apenas comigo.
Tempo de não ter que sair correndo para resolver os problemas do mundo. Tempo
de não ter que brigar por nada. Tempo de sentir saudade. Tempo de não ter que.
Silêncio. Quietude. Ócio. Não ter nada pra fazer. Poder olhar a folha da
árvore, o vôo do passarinho. Poder fazer nada. Estar à toa. Perceber-se vida,
parte de uma vida silenciosa que não precisa de tantas palavras para entender a
si mesma. Estar flutuante no lugar de palavras desnecessárias. Apenas. Às vezes
a gente só precisa.
Tempo bom... aprendendo a amá-lo agora. Lindo texto, flor.
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