“Estátuas e cofres e
paredes pintadas ninguém sabe o que aconteceu...
Ela se jogou da janela
do quinto andar, nada fácil de entender...
Dorme agora... é só o
vento lá fora...”
Um dia dessa semana meu pai me olhou e disse: “Você precisa entender,
eu estou desistindo...”
Algumas vezes, o cansaço toma conta. Atire a primeira pedra
quem nunca, nem mesmo por um instante, pensou em como seria bom deitar pra
dormir e nunca mais acordar. Eu já pensei. Porque as vezes tudo é cansaço.
Nesses momentos, dedos apontados nos dizem muito pouco. A culpa não ficará
maior, ela já é imensa. Sabemos que temos pessoas que dependem de nós e não
precisamos ser lembrados disso. Sabemos que a vida pode ser linda algumas
outras tantas vezes.
O mundo se reduz. Tem dias que dói. E quando dói, a vontade
é apenas fazer a dor parar. Talvez não seja o desejo tão consciente de atentar
contra a própria vida. Mas apenas fazer parar. Fazer parar o monte de
responsabilidade que sufoca a vida. Fazer parar a dor que aperta dia e noite, e
grita e atordoa. As vezes o desejo da morte é apenas um desejo momentâneo de
que o corpo silencie. De que os pensamentos parem de gritar enlouquecidos. De
que a doença não agrida. De que a solidão não esteja corroendo por dentro.
Se você tem alguém querido te dizendo que está desistindo,
entenda: Isso não é sobre você. Não é nada que você tenha feito, ou deixado de
fazer. O outro tem suas próprias questões. Todos tem o direito de estar
cansados. Redobrar o acolhimento é importante. Não minimize a dor do outro, mas
procure entender. Calçar os sapatos do outro e andar alguns quilômetros. A dor
que corrói a alma dele merece ser legitimada. Precisa ser reconhecida. Quando
meu pai ficou muito doente, os enfermeiros diziam que ele estava ótimo. E ele,
no auge do mau humor que só a dor é capaz de oferecer, algumas vezes respondia
sussurrando: “Não estou ótimo, estou morrendo... e vocês fingindo que não tá
acontecendo nada”.
Muitas vezes, estamos impotentes diante da dor alheia. A
aflição de não ter o que fazer nos exaspera. Mas tenho aprendido que as vezes
quando não se sabe o que dizer, fazer silêncio acompanhado de um abraço
apertado, e até algumas lágrimas compartilhadas podem aliviar. A nós e aos
outros. A gente não precisa estar bem 100% do tempo. Existe cansaço, tristeza,
desespero, aflição. E a gente tem o direito de experimentar, vivenciar...
Atravessar e sair do outro lado, percebendo que amanhece. Sempre amanhece. Seja
como for.
São tantas as vezes em que penso que não acordar seria maravilhoso que nem cabe nesse espaço.
ResponderExcluirTambém não cabem palavras pra dizer o quanto te amo. Meu abraço e meu amor são seus, pra sempre.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLinda reflexão. Amo você.
ResponderExcluir