A HISTÓRIA DA CACATUA
Não é legal
comprar animais silvestres, mas muitas pessoas acabam tendo um porque os acham
legais. Uma amiga minha já teve um jabuti... o pobre morreu atropelado quando
ela foi tirar o carro da garagem.
Um outro amigo
teve uma maritaca. Essa foi trazida de contrabando para ele. Imagino os
horrores que a bichinha deva ter sofrido engaiolada na boleia de caminhões até
chegar à casa de seu novo dono. Ele a deixava engaiolada durante o dia e,
quando chegava do trabalho, a soltava um pouco dentro de casa. Claro que ela
tentava fugir pela janela e, na segunda vez, escapou e ficou enganchada no
galho da árvore do vizinho. Seu dono arranjou uma escada alta e regatou o
pássaro. Naquela noite a maritaca teve a pena das asas cortadas. A alegria do dono e a tristeza da bichinha
cresciam de maneira inversamente proporcional. Já sem canto, imagino que ela
esperava ansiosa o dia em que suas penas iriam crescer de novo. No dia agendado
para a segunda poda das asas, ela conseguiu fugir para nunca mais voltar.
Eu tive uma
cacatua. É um pássaro da família dos papagaios que possui uma crista de penas
que levanta e abaixa de acordo com seu humor. Os pés da cacatua são ágeis e
ajudam a ave a ficar trepada em galhos e árvores. Pode ser uma ave dócil e
brincalhona, que aprende com facilidade a falar, cantar, abrir trincos e pegar
pequenos objetos. Uma espécie de papagaio mais chique, em cores claras.
No começo tudo
era festa... quanto mais atenção a cacatua recebia, mais ela cantava. E quanto
mais ela cantava, mais atenção recebia. Se era assim, então tudo bem.
Quando meu
filho nasceu, a primeira a sentir foi a cacatua. Não tinha mais toda a atenção
de antes. Para chamar a atenção, a cacatua cantava cada vez mais alto. Às vezes
todos a admiravam e cantavam junto. Outras vezes, por mais bonito que fosse,
incomodava.
Infeliz, a
cacatua percebia a janela e tentava fugir. Fez isso algumas vezes. Algumas
vezes ela tentava voltar e eu a ajudava a entrar pela janela. Outras vezes, eu
a encontrava lá fora e a trazia de volta. Ela já estava cansada de esganar sua
voz e não ter a atenção que um dia tivera e eu já estava cansada de buscá-la
todas as vezes que fugia pela janela.
Um dia ela
bicou minha mão e fugiu. Dessa vez eu a deixei ir e fechei a janela.
Decididamente, os pássaros não nasceram para isso.
Cris Couto, 20/04/2015.
Crédito de imagem:
Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e escritora.
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feira
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Que leveza, amada!
ResponderExcluirConto gostosinho.
E sensato. :)